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sábado, 30 de outubro de 2010

EX FREI LEONARDO BOFF DIZ QUE “BENTO XVI, ENQUANTO PASTOR, É MEDÍOCRE”.


Leonardo Boff é o teólogo mais contumaz da Teologia da libertação. Foi frade menor, ordem Franciscana, e devido aos sérios questionamento à hierarquia da Igreja no livro Igreja, carisma e poder foi notificado pela congregação da doutrina da fé, então presidida pelo cardeal Ratzinger. Isto em 1985. Sete depois prevendo nova punição pediu desligamento da ordem e dispensa do sacerdócio. O segundo pedido não foi concedido, foi quando o teólogo resolveu por ele mesmo abandonar a Igreja e juntar-se a uma mulher divorciada, mãe de seis filhos.



As críticas de Leonardo Boff à Igreja são constantes e o rancor ao atual papa vem de longa data. Numa entrevista em Londrina, o ex-frade chegou a afirmar que Bento XVI, enquanto pastor é medíocre, isto porque sua santidade foi um dos denunciantes do desvio doutrinário que é a teologia da libertação, ainda remanescente em alguns setores eclesiais.


Ainda na mesma entrevista, Boff critica o Regional Sul I da CNBB pela confecção e divulgação do documento Aos brasileiros e brasileiras no qual orienta aos fieis que não votem em candidatos abortistas. Segundo o ex-frei o regional desobedeceu a CNBB. E sobre o aborto repete as palavras da candidata que apoia à presidência, exatamente com as mesmas palavras, diz que é contra, mas o entende como caso de saúde pública.
falando mau do papa,A doutrina da igreja existe a mais de 2.000 anos. Quem crioudivisões foram os comunas da teologia da libertação. Eles dividiram a igreja e ele mesmo deixou a igreja e acausa o santo padre de causar divisões ! erege.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

PAPA BENTO XVI FALA SOBRE SITUAÇÃO POLÍTICA BRASILEIRA



Bento XVI acaba de se pronunciar sobre o momento político brasileiro.
Fala contra projetos do tipo PNDH-3, contra o aborto e a eutanásia.
os católicos têm obrigação de tomar conhecimento, sobretudo no
momento pelo qual passa o Brasil!

Bento XVI: "Em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. GS, 75)".

Hoje às 7 horas da manhã (horário de Brasília) o Papa Bento XVI recebeu em Roma os bispos da Regional Nordeste 5 (Bispos do Maranhão) e tratou da defesa da vida e do dever que os bispos tem de, sempre que necessário, se pronunciarem sobre eleições.

O que nos enche de alento é que o Sumo Pontífice – sem mencionar nomes – atacou projetos de direitos humanos (leia-se PNDH-3) que ferem o direito fundamental à vida!

"Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural (cf. Christifideles laici, 38)."


"Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitæ, 74). Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida «não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo» (ibidem, 82)."


"Ao defender a vida não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo."






Leia abaixo a íntegra do discurso:


Amados Irmãos no Episcopado,
Para vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo» (2 Cor 1, 2). Desejo antes de mais nada agradecer a Deus pelo vosso zelo e dedicação a Cristo e à sua Igreja que cresce no Regional Nordeste .

Lendo os vossos relatórios, pude dar-me conta dos problemas de caráter religioso e pastoral, além de humano e social, com que deveis medir-vos diariamente. O quadro geral tem as suas sombras, mas tem também sinais de esperança, como Dom Xavier Gilles acaba de referir na saudação que me dirigiu, dando livre curso aos sentimentos de todos vós e do vosso povo.

Como sabeis, nos sucessivos encontros com os diversos Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tenho sublinhado diferentes âmbitos e respectivos agentes do multiforme serviço evangelizador e pastoral da Igreja na vossa grande Nação; hoje, gostaria de falar-vos de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho, ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social, conforme à sabedoria divina.

Entretanto, o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos, que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a reta configuração da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf.Deus caritas est, 29).

O vosso dever como Bispos junto com o vosso clero é mediato, enquanto vos compete contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna.

Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. GS, 76).
Ao formular esses juízos, os pastores devem levar em conta o valor absoluto daqueles preceitos morais negativos que declaram moralmente inaceitável a escolha de uma determinada ação intrinsecamente má e incompatível com a dignidade da pessoa; tal escolha não pode ser resgatada pela bondade de qualquer fim, intenção, conseqüência ou circunstância.

Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural (cf. Christifideles laici, 38).

Além disso no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal?

Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitæ, 74).
Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida «não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo» (ibidem, 82).

Além disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente, é «necessária — como vos disse em Aparecida — uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o "Compêndio da Doutrina Social da Igreja"» (Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 3).

Isto significa também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. GS, 75).

Neste ponto, política e fé se tocam. A fé tem, sem dúvida, a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo que abre novos horizontes muito para além do âmbito próprio da razão. «Com efeito, sem a correção oferecida pela religião até a razão pode tornar-se vítima de ambigüidades, como acontece quando ela é manipulada pela ideologia, ou então aplicada de uma maneira parcial, sem ter em consideração plenamente a dignidade da pessoa humana» (Viagem Apostólica ao Reino Unido, Encontro com as autoridades civis, 17-IX-2010).

Só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim, Deus deve «encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política» (Caritas in veritate, 56). Por isso, amados Irmãos, uno a minha voz à vossa num vivo apelo a favor da educação religiosa, e mais concretamente do ensino confessional e plural da religião, na escola pública do Estado.

Queria ainda recordar que a presença de símbolos religiosos na vida pública é ao mesmo tempo lembrança da transcendência do homem e garantia do seu respeito. Eles têm um valor particular, no caso do Brasil, em que a religião católica é parte integral da sua história.

Como não pensar neste momento na imagem de Jesus Cristo com os braços estendidos sobre a baía da Guanabara que representa a hospitalidade e o amor com que o Brasil sempre soube abrir seus braços a homens e mulheres perseguidos e necessitados provenientes de todo o mundo? Foi nessa presença de Jesus na vida brasileira, que eles se integraram harmonicamente na sociedade, contribuindo ao enriquecimento da cultura, ao crescimento econômico e ao espírito de solidariedade e liberdade.


Amados Irmãos, confio à Mãe de Deus e nossa, invocada no Brasil sob o título de Nossa Senhora Aparecida, estes anseios da Igreja Católica na Terra de Santa Cruz e de todos os homens de boa vontade em defesa dos valores da vida humana e da sua transcendência, junto com as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens e mulheres da província eclesiástica do Maranhão. A todos coloco sob a Sua materna proteção, e a vós e ao vosso povo concedo a minha .


Benção Apostólica


Brasão do S.S. Bento XVI

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Solenidade de Maria santissima



Hoje, dia de Nossa Senhora Aparecida e padroeira do Brasil, queremos lembrar a Sua Assunção. Sim, pois depois de assunta aos Céus, Maria é esta que está junto do Filho, na glória do Pai, intercedendo por cada um de nós.

O Papa Pio XII, em 1950, proclama o ‘Dogma da Assunção da Santíssima Virgem Maria’, que consiste no seguinte: “Cumprido o curso de sua vida terrena, Maria foi assunta ao Céu em corpo e alma”. Para dizer que: 1º) Maria tem especial participação na ressurreição do Filho – Ela está unida à glória do Filho; 2º) Ela é a antecipação da sorte dos eleitos – primícias e exemplo da Igreja.

Segundo a Tradição da Igreja, logo após a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, João a teria levado para morar com ele, assumindo-a como mãe, numa cidade chamada Éfeso. Todavia, antes de Maria vir a morrer – entenda-se esta morte não como consequência do pecado, pois Maria não pecou. O termo “dormição” é para dizer de uma morte diferenciada, não como qualquer morte fruto de pecado; a verdade é esta: Maria morreu – João a teria trazido para Jerusalém.

Maria morre e é assunta em Jerusalém; pode-se dizer que ela tenha sido velada no Monte Sião, em Jerusalém, e levada para ser sepultada ao lado do Monte das Oliveiras, túmulo este que se encontra vazio – obviamente – e que pode ser visitado e visto até hoje.
A Santíssima Virgem Maria participa da Glória do Filho e é a antecipação da sorte dos eleitos; isso significa que já existe uma criatura ressuscitada no Céu em copo e alma: Maria. Mas tudo isso devido ao fato de Deus tê-La preparado para esta missão tão linda e particular: ser a Mãe do Filho d’Ele. Todavia, houve uma colaboração e uma correspondência pela parte de Nossa Senhora. Para dizer que ela é modelo de como ser Igreja. O devoto da Virgem Maria é aquele que toma a decisão de viver as virtudes dela. A saber:
Mulher do silêncio: Precisamos aprender com Maria a silenciar o nosso coração de todas as agitações do mundo e de todo barulho, fruto das realidades que são contrárias à vontade de Deus na nossa vida. Silenciar é muito mais que não fazer barulho, é ter a coragem de retirar-se constantemente para encontrar-se com o Senhor, e aí escutar o Seu Coração.
Mulher da Palavra: A Santíssima Virgem rezava os salmos; era íntima da Palavra de Deus; prova disso é ela repetir o Cântico de Ana ao se encontrar com Isabel, cântico este lá do Antigo Testamento.

Muito mais que o fato de narrar esse cântico, a prova de que a Virgem Maria é a mulher da Palavra é a sua total confiança na misericórdia e na providêcia de Deus, que regia toda a sua vida e a vida do mundo.
Mulher do serviço: Maria sobe a montanha para visitar a sua parenta Isabel; ela vai à casa da prima não tendo como prioridade tratar de serviços domésticos, mas para levar o mistério até a vida daquela que, com certeza, muitos traumas trazia pelo fato de ter sido estéril por muitos anos – fato tido como sinal de maldição.
O mistério em Maria, que é o próprio Deus, a leva até a prima, para que esta possa ser curada. Isto nos diz que devemos ser, efetivamente, portadores e condutores do mistério, que é Deus, para as pessoas, pois Ele se encontra em nós, dentro de nós, desde o momento do nosso batismo.
Mulher da obediência: Maria só tinha olhos para a vontade de Deus, para obedecer ao Todo-poderoso nas circunstâncias ordinárias da vida; é ela quem diz a cada um de nós – única frase de Maria na Sagrada Escritura, de forma direta: “Fazei tudo o que Ele vos disser.”
Maria é aquela que pode, verdadeiramente, nos ajudar a encher as talhas da nossa vida. Esta água viva é o Espírito Santo, o esposo de Nossa Senhora. Quando o Espírito Santo percebe uma alma tomada de amor e da presença de Maria - a Sua esposa - o Espírito vem e realiza maravilhas nesta alma, pois Ele não pode ficar separado da Sua esposa. As maravilhas que o Espírito realiza em nós, nada mais é do que encher as talhas da nossa vida para que Cristo nos transforme neste vinho novo.
Viver esta festa de Nossa Senhora Aparecida, ser devoto de Maria por excelência é obedecer a Deus e fazer com que Ele seja o Senhor, verdadeiramente, da nossa vida.
Padre Pacheco

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O Papa Bento XVI nomeia novo Bispo para a diocese de Sobral


O Papa Bento XVI nomeou hoje Dom Odelir José Magri, como novo Bispo de Sobral no Ceará. O novo Prelado se desempenhava até agora como Vigário General dos Padres Combonianos em Roma. Dom Magri nasceu em 18 de abril de 1963 na cidade de Campo Erê, diocese de Chapecó, no estado de Santa Catarina. Em 26 de junho de 1988 fez sua profissão religiosa na Congregação dos Missionários Combonianos do Sagrado Coração de Jesus.
Estudou Filosofia e Teologia em Paris entre 1988 e 1992, obtendo a licenciatura em Filosofia. Foi ordenado sacerdote em 18 de outubro de 1992.
Entre 1992 e 1996 desenvolveu seu ministério sacerdotal em Kinshasha, Congo. Voltou para o Brasil e entre 1997 e 1999 foi Formador Escolástico e Pároco, logo Conselheiro Provincial entre 1999 e 2001, entre outros cargos. Desde 2003 era Assistente General em Roma e desde 2009 Vigário General dos Combonianos. Pe. José Odelir José Magri, mandou uma carta ao povo da diocese de Sobral lida pelo Pe. Valdery da Rocha onde saúda todos. O novo bispo de Sobral está em Roma onde reside atualmente. A data da posse ficará a cargo do colégio de consultores a pedido do novo.

SE QUISERES CULTIVAR A PAZ, PRESERVA A CRIAÇÃO



Na encíclica Caritas in veritate, pus em realce que o desenvolvimento humano integral está intimamente ligado com os deveres que nascem da relação do homem com o ambiente natural, considerado como uma dádiva de Deus para todos, cuja utilização comporta uma responsabilidade comum para com a humanidade inteira, especialmente os pobres e as gerações futuras. Assinalei também que corre o risco de atenuar-se, nas consciências, a noção da responsabilidade, quando a natureza e sobretudo o ser humano são considerados simplesmente como fruto do acaso ou do determinismo evolutivo.[3] Pelo contrário, conceber a criação como dádiva de Deus à humanidade ajuda-nos a compreender a vocação e o valor do homem; na realidade, cheios de admiração, podemos proclamar com o salmista: «Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes?» (Sl 8, 4-5). Contemplar a beleza da criação é um estímulo para reconhecer o amor do Criador; aquele Amor que «move o sol e as outras estrelas


Há vinte e cinco anos, ao dedicar a Mensagem do Dia Mundial da Paz ao tema Paz com Deus criador, paz com toda a criação, o Papa João Paulo II chamava a atenção para a relação que nós, enquanto criaturas de Deus, temos com o universo que nos circunda. «Observa-se nos nossos dias – escrevia ele – uma consciência crescente de que a paz mundial está ameaçada (…) também pela falta do respeito devido à natureza». E acrescentava que esta consciência ecológica «não deve ser reprimida mas antes favorecida, de maneira que se desenvolva e vá amadurecendo até encontrar expressão adequada em programas e iniciativas concretas».[5] Já outros meus predecessores se referiram à relação existente entre o homem e o ambiente; por exemplo, em 1971, por ocasião do octogésimo aniversário da encíclica Rerum novarum de Leão XIII, Paulo VI houve por bem sublinhar que, «por motivo de uma exploração inconsiderada da natureza, [o homem] começa a correr o risco de a destruir e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação». E acrescentou que, deste modo, «não só o ambiente material se torna uma ameaça permanente – poluições e lixo, novas doenças, poder destruidor absoluto – mas é o próprio contexto humano que o homem não consegue dominar, criando assim para o dia de amanhã um ambiente global que se lhe poderá tornar insuportável. Problema social de grande envergadura, este, que diz respeito à inteira família humana.

Embora evitando de intervir sobre soluções técnicas específicas, a Igreja, «perita em humanidade», tem a peito chamar vigorosamente a atenção para a relação entre o Criador, o ser humano e a criação. Em 1990, João Paulo II falava de «crise ecológica» e, realçando o carácter prevalecentemente ético de que a mesma se revestia, indicava «a urgente necessidade moral de uma nova solidariedade».[7] Hoje, com o proliferar de manifestações duma crise que seria irresponsável não tomar em séria consideração, tal apelo aparece ainda mais premente. Pode-se porventura ficar indiferente perante as problemáticas que derivam de fenómenos como as alterações climáticas, a desertificação, o deterioramento e a perda de produtividade de vastas áreas agrícolas, a poluição dos rios e dos lençóis de água, a perda da biodiversidade, o aumento de calamidades naturais, o desflorestamento das áreas equatoriais e tropicais? Como descurar o fenómeno crescente dos chamados «prófugos ambientais», ou seja, pessoas que, por causa da degradação do ambiente onde vivem, se vêem obrigadas a abandoná-lo – deixando lá muitas vezes também os seus bens – tendo de enfrentar os perigos e as incógnitas de uma deslocação forçada? Com não reagir perante os conflitos, já em acto ou potenciais, relacionados com o acesso aos recursos naturais? Trata-se de um conjunto de questões que têm um impacto profundo no exercício dos direitos humanos, como, por exemplo, o direito à vida, à alimentação, à saúde, ao desenvolvimento.

Entretanto tenha-se na devida conta que não se pode avaliar a crise ecológica prescindindo das questões relacionadas com ela, nomeadamente o próprio conceito de desenvolvimento e a visão do homem e das suas relações com os seus semelhantes e com a criação. Por isso, é decisão sensata realizar uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento e também reflectir sobre o sentido da economia e dos seus objectivos, para corrigir as suas disfunções e deturpações. Exige-o o estado de saúde ecológica da terra; reclama-o também e sobretudo a crise cultural e moral do homem, cujos sintomas há muito tempo que se manifestam por toda a parte.[8] A humanidade tem necessidade de uma profunda renovação cultural; precisa de redescobrir aqueles valores que constituem o alicerce firme sobre o qual se pode construir um futuro melhor para todos. As situações de crise que está atravessando, de carácter económico, alimentar, ambiental ou social, no fundo são também crises morais e estão todas interligadas. Elas obrigam a projectar de novo a estrada comum dos homens. Impõem, de maneira particular, um modo de viver marcado pela sobriedade e solidariedade, com novas regras e formas de compromisso, apostando com confiança e coragem nas experiências positivas realizadas e rejeitando decididamente as negativas. É o único modo de fazer com que a crise actual se torne uma ocasião para discernimento e nova projectação.

Porventura não é verdade que, na origem daquela que em sentido cósmico chamamos «natureza», há «um desígnio de amor e de verdade»? O mundo «não é fruto duma qualquer necessidade, dum destino cego ou do acaso, (…) procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participantes do seu Ser, da sua sabedoria e da sua bondade».[9] Nas suas páginas iniciais, o livro do Génesis introduz-nos no projecto sapiente do cosmos, fruto do pensamento de Deus, que, no vértice, colocou o homem e a mulher, criados à imagem e semelhança do Criador, para «encher e dominar a terra» como «administradores» em nome do próprio Deus (cf. Gn 1, 28). A harmonia descrita na Sagrada Escritura entre o Criador, a humanidade e a criação foi quebrada pelo pecado de Adão e Eva, do homem e da mulher, que pretenderam ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-se como suas criaturas. Em consequência, ficou deturpada também a tarefa de «dominar» a terra, de a «cultivar e guardar» e gerou-se um conflito entre eles e o resto da criação (cf. Gn 3, 17-19). O ser humano deixou-se dominar pelo egoísmo, perdendo o sentido do mandato de Deus, e, no relacionamento com a criação, comportou-se como explorador pretendendo exercer um domínio absoluto sobre ela. Mas o verdadeiro significado do mandamento primordial de Deus, bem evidenciado no livro do Génesis, não consistia numa simples concessão de autoridade, mas antes num apelo à responsabilidade. Aliás, a sabedoria dos antigos reconhecia que a natureza está à nossa disposição, mas não como «um monte de lixo espalhado ao acaso»,[10] enquanto a Revelação bíblica nos fez compreender que a natureza é dom do Criador, o Qual lhe traçou os ordenamentos intrínsecos a fim de que o homem pudesse deduzir deles as devidas orientações para a «cultivar e guardar» (cf. Gn 2, 15).[11] Tudo o que existe pertence a Deus, que o confiou aos homens, mas não à sua arbitrária disposição. E quando o homem, em vez de desempenhar a sua função de colaborador de Deus, se coloca no lugar de Deus, acaba por provocar a rebelião da natureza, «mais tiranizada que governada por ele».[12] O homem tem, portanto, o dever de exercer um governo responsável da criação, preservando-a e cultivando-a.[13]

Infelizmente temos de constatar que um grande número de pessoas, em vários países e regiões da terra, experimenta dificuldades cada vez maiores, porque muitos se descuidam ou se recusam a exercer sobre o ambiente um governo responsável. O Concílio Ecuménico Vaticano II lembrou que «Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos».[14] Por isso, a herança da criação pertence à humanidade inteira. Entretanto o ritmo actual de exploração põe seriamente em perigo a disponibilidade de alguns recursos naturais não só para a geração actual, mas sobretudo para as gerações futuras.[15] Ora não é difícil constatar como a degradação ambiental é muitas vezes o resultado da falta de projectos políticos clarividentes ou da persecução de míopes interesses económicos, que se transformam, infelizmente, numa séria ameaça para a criação. Para contrastar tal fenómeno, na certeza de que «cada decisão económica tem consequências de carácter moral»,[16] é necessário também que a actividade económica seja mais respeitadora do ambiente. Quando se lança mão dos recursos naturais, é preciso preocupar-se com a sua preservação prevendo também os seus custos em termos ambientais e sociais, que se devem contabilizar como uma parcela essencial da actividade económica. Compete à comunidade internacional e aos governos nacionais dar os justos sinais para contrastar de modo eficaz, no uso do ambiente, as modalidades que resultem danosas para o mesmo. Para proteger o ambiente e tutelar os recursos e o clima é preciso, por um lado, agir no respeito de normas bem definidas mesmo do ponto de vista jurídico e económico e, por outro, ter em conta a solidariedade devida a quantos habitam nas regiões mais pobres da terra e às gerações futuras.
8. Na realidade, é urgente a obtenção de uma leal solidariedade entre as gerações. Os custos resultantes do uso dos recursos ambientais comuns não podem ficar a cargo das gerações futuras. «Herdeiros das gerações passadas e beneficiários do trabalho dos nossos contemporâneos, temos obrigações para com todos, e não podemos desinteressar-nos dos que virão depois de nós aumentar o círculo da família humana. A solidariedade universal é para nós não só um facto e um benefício, mas também um dever. Trata-se de uma responsabilidade que as gerações presentes têm em relação às futuras, uma responsabilidade que pertence também a cada um dos Estados e à comunidade internacional».
[17] O uso dos recursos naturais deverá verificar-se em condições tais que as vantagens imediatas não comportem consequências negativas para os seres vivos, humanos e não humanos, presentes e vindouros; que a tutela da propriedade privada não dificulte o destino universal dos bens;[18] que a intervenção do homem não comprometa a fecundidade da terra para benefício do dia de hoje e do amanhã. Para além de uma leal solidariedade entre as gerações, há que reafirmar a urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade entre os indivíduos da mesma geração, especialmente nas relações entre os países em vias de desenvolvimento e os países altamente industrializados: «A comunidade internacional tem o imperioso dever de encontrar as vias institucionais para regular a exploração dos recursos não renováveis, com a participação também dos países pobres, de modo a planificar em conjunto o futuro».[19] A crise ecológica manifesta a urgência de uma solidariedade que se projecte no espaço e no tempo. Com efeito, é importante reconhecer, entre as causas da crise ecológica actual, a responsabilidade histórica dos países industrializados. Contudo os países menos desenvolvidos e, de modo particular, os países emergentes não estão exonerados da sua própria responsabilidade para com a criação, porque o dever de adoptar gradualmente medidas e políticas ambientais eficazes pertence a todos. Isto poder-se-ia realizar mais facilmente se houvesse cálculos menos interesseiros na assistência, na transferência dos conhecimentos e tecnologias menos poluidoras.

Um dos nós principais a enfrentar pela comunidade internacional é, sem dúvida, o dos recursos energéticos, delineando estratégias compartilhadas e sustentáveis para satisfazer as necessidades de energia da geração actual e das gerações futuras. Para isso, é preciso que as sociedades tecnologicamente avançadas estejam dispostas a favorecer comportamentos caracterizados pela sobriedade, diminuindo as próprias necessidades de energia e melhorando as condições da sua utilização. Ao mesmo tempo é preciso promover a pesquisa e a aplicação de energias de menor impacto ambiental e a «redistribuição mundial dos recursos energéticos, de modo que os próprios países desprovidos possam ter acesso aos mesmos».[20] Deste modo, a crise ecológica oferece uma oportunidade histórica para elaborar uma resposta colectiva tendente a converter o modelo de desenvolvimento global segundo uma direcção mais respeitadora da criação e de um desenvolvimento humano integral, inspirado nos valores próprios da caridade na verdade. Faço votos, portanto, de que se adopte um modelo de desenvolvimento fundado na centralidade do ser humano, na promoção e partilha do bem comum, na responsabilidade, na consciência da necessidade de mudar os estilos de vida e na prudência, virtude que indica as acções que se devem realizar hoje na previsão do que poderá suceder amanhã.[21]
10. A fim de guiar a humanidade para uma gestão globalmente sustentável do ambiente e dos recursos da terra, o homem é chamado a concentrar a sua inteligência no campo da pesquisa científica e tecnológica e na aplicação das descobertas que daí derivam. A «nova solidariedade», que João Paulo II propôs na
Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1990,[22] e a «solidariedade global», a que eu mesmo fiz apelo na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2009,[23] apresentam-se como atitudes essenciais para orientar o compromisso de tutela da criação através de um sistema de gestão dos recursos da terra melhor coordenado a nível internacional, sobretudo no momento em que se vê aparecer, de forma cada vez mais evidente, a forte relação que existe entre a luta contra a degradação ambiental e a promoção do desenvolvimento humano integral. Trata-se de uma dinâmica imprescindível, já que «o desenvolvimento integral do homem não pode realizar-se sem o desenvolvimento solidário da humanidade».[24] Muitas são hoje as oportunidades científicas e os potenciais percursos inovadores, mediante os quais é possível fornecer soluções satisfatórias e respeitadoras da relação entre o homem e o ambiente. Por exemplo, é preciso encorajar as pesquisas que visam identificar as modalidades mais eficazes para explorar a grande potencialidade da energia solar. A mesma atenção se deve prestar à questão, hoje mundial, da água e ao sistema hidrogeológico global, cujo ciclo se reveste de primária importância para a vida na terra, mas está fortemente ameaçado na sua estabilidade pelas alterações climáticas. De igual modo deve-se procurar apropriadas estratégias de desenvolvimento rural centradas nos pequenos cultivadores e nas suas famílias, sendo necessário também elaborar políticas idóneas para a gestão das florestas, o tratamento do lixo, a valorização das sinergias existentes no contraste às alterações climáticas e na luta contra a pobreza. São precisas políticas nacionais ambiciosas, completadas pelo necessário empenho internacional que há-de trazer importantes benefícios sobretudo a médio e a longo prazo. Enfim, é necessário sair da lógica de mero consumo para promover formas de produção agrícola e industrial que respeitem a ordem da criação e satisfaçam as necessidades primárias de todos. A questão ecológica não deve ser enfrentada apenas por causa das pavorosas perspectivas que a degradação ambiental esboça no horizonte; o motivo principal há-de ser a busca duma autêntica solidariedade de dimensão mundial, inspirada pelos valores da caridade, da justiça e do bem comum. Por outro lado, como já tive ocasião de recordar, a técnica «nunca é simplesmente técnica; mas manifesta o homem e as suas aspirações ao desenvolvimento, exprime a tensão do ânimo humano para uma gradual superação de certos condicionamentos materiais. Assim, a técnica insere-se no mandato de “cultivar e guardar a terra” (cf. Gn 2, 15) que Deus confiou ao homem, e há-de ser orientada para reforçar aquela aliança entre ser humano e ambiente em que se deve reflectir o amor criador de Deus».[25]
11. É cada vez mais claro que o tema da degradação ambiental põe em questão os comportamentos de cada um de nós, os estilos de vida e os modelos de consumo e de produção hoje dominantes, muitas vezes insustentáveis do ponto de vista social, ambiental e até económico. Torna-se indispensável uma real mudança de mentalidade que induza a todos a adoptarem novos estilos de vida, «nos quais a busca do verdadeiro, do belo e do bom e a comunhão com os outros homens, em ordem ao crescimento comum, sejam os elementos que determinam as opções do consumo, da poupança e do investimento».
[26] Deve-se educar cada vez mais para se construir a paz a partir de opções clarividentes a nível pessoal, familiar, comunitário e político. Todos somos responsáveis pela protecção e cuidado da criação. Tal responsabilidade não conhece fronteiras. Segundo o princípio de subsidiariedade, é importante que cada um, no nível que lhe corresponde, se comprometa a trabalhar para que deixem de prevalecer os interesses particulares. Um papel de sensibilização e formação compete de modo particular aos vários sujeitos da sociedade civil e às organizações não-governamentais, empenhados com determinação e generosidade na difusão de uma responsabilidade ecológica, que deveria aparecer cada vez mais ancorada ao respeito pela «ecologia humana». Além disso, é preciso lembrar a responsabilidade dos meios de comunicação social neste âmbito, propondo modelos positivos que sirvam de inspiração. É que ocu-par-se do ambiente requer uma visão larga e global do mundo; um esforço comum e responsável a fim de passar de uma lógica centrada sobre o interesse egoísta da nação para uma visão que sempre abrace as necessidades de todos os povos. Não podemos permanecer indiferentes àquilo que sucede ao nosso redor, porque a deterioração de uma parte qualquer do mundo recairia sobre todos. As relações entre pessoas, grupos sociais e Estados, bem como as relações entre homem e ambiente são chamadas a assumir o estilo do respeito e da «caridade na verdade». Neste contexto alargado, é altamente desejável que encontrem eficaz correspondência os esforços da comunidade internacional que visam obter um progressivo desarmamento e um mundo sem armas nucleares, cuja mera presença ameaça a vida da terra e o processo de desenvolvimento integral da humanidade actual e futura.
12. A Igreja tem a sua parte de responsabilidade pela criação e sente que a deve exercer também em âmbito público, para defender a terra, a água e o ar, dádivas feitas por Deus Criador a todos, e antes de tudo para proteger o homem contra o perigo da destruição de si mesmo. Com efeito, a degradação da natureza está intimamente ligada à cultura que molda a convivência humana, pelo que, «quando a “ecologia humana”é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental».
[27] Não se pode pedir aos jovens que respeitem o ambiente, se não são ajudados, em família e na sociedade, a respeitar-se a si mesmos: o livro da natureza é único, tanto sobre a vertente do ambiente como sobre a da ética pessoal, familiar e social.[28] Os deveres para com o ambiente derivam dos deveres para com a pessoa considerada em si mesma e no seu relacionamento com os outros. Por isso, de bom grado encorajo a educação para uma responsabilidade ecológica, que, como indiquei na encíclica Caritas in veritate, salvaguarde uma autêntica «ecologia humana» e consequentemente afirme, com renovada convicção, a inviolabilidade da vida humana em todas as suas fases e condições, a dignidade da pessoa e a missão insubstituível da família, onde se educa para o amor ao próximo e o respeito da natureza.


É preciso preservar o património humano da sociedade. Este património de valores tem a sua origem e está inscrito na lei moral natural, que é fundamento do respeito da pessoa humana e da criação.

Por fim não se deve esquecer o facto, altamente significativo, de que muitos encontram tranquilidade e paz, sentem-se renovados e revigorados quando entram em contacto directo com a beleza e a harmonia da natureza. Existe aqui uma espécie de reciprocidade: quando cuidamos da criação, constatamos que Deus, através da criação, cuida de nós. Por outro lado, uma visão correcta da relação do homem com o ambiente impede de absolutizar a natureza ou de a considerar mais importante do que a pessoa. Se o magistério da Igreja exprime perplexidades acerca de uma concepção do ambiente inspirada no ecocentrismo e no biocentrismo, fá-lo porque tal concepção elimina a diferença ontológica e axiológica entre a pessoa humana e os outros seres vivos. Deste modo, chega-se realmente a eliminar a identidade e a função superior do homem, favorecendo uma visão igualitarista da «dignidade» de todos os seres vivos. Assim se dá entrada a um novo panteísmo com acentos neopagãos que fazem derivar apenas da natureza, entendida em sentido puramente naturalista, a salvação para o homem. Ao contrário, a Igreja convida a colocar a questão de modo equilibrado, no respeito da «gramática» que o Criador inscreveu na sua obra, confiando ao homem o papel de guardião e administrador responsável da criação, papel de que certamente não deve abusar mas também não pode abdicar. Com efeito, a posição contrária, que considera a técnica e o poder humano como absolutos, acaba por ser um grave atentado não só à natureza, mas também à própria dignidade humana.[30]

Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação. A busca da paz por parte de todos os homens de boa vontade será, sem dúvida alguma, facilitada pelo reconhecimento comum da relação indivisível que existe entre Deus, os seres humanos e a criação inteira. Os cristãos, iluminados pela Revelação divina e seguindo a Tradição da Igreja, prestam a sua própria contribuição. Consideram o cosmos e as suas maravilhas à luz da obra criadora do Pai e redentora de Cristo, que, pela sua morte e ressurreição, reconciliou com Deus «todas as criaturas, na terra e nos céus» (Cl 1, 20). Cristo crucificado e ressuscitado concedeu à humanidade o dom do seu Espírito santificador, que guia o caminho da história à espera daquele dia em que, com o regresso glorioso do Senhor, serão inaugurados «novos céus e uma nova terra» (2 Pd 3, 13), onde habitarão a justiça e a paz para sempre. Assim, proteger o ambiente natural para construir um mundo de paz é dever de toda a pessoa. Trata-se de um desafio urgente que se há-de enfrentar com renovado e concorde empenho; é uma oportunidade providencial para entregar às novas gerações a perspectiva de um futuro melhor para todos. Disto mesmo estejam cientes os responsáveis das nações e quantos, nos diversos níveis, têm a peito a sorte da humanidade: a salvaguarda da criação e a realização da paz são realidades intimamente ligadas entre si. Por isso, convido todos os crentes a elevarem a Deus, Criador omnipotente e Pai misericordioso, a sua oração fervorosa, para que no coração de cada homem e de cada mulher ressoe, seja acolhido e vivido o premente apelo: Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação.

O sacerdócio é um mistério de amor, do amor infinito de Deus pelo homem que criou à sua imagem, que destinou a partilhar, na intimidade com Ele, a comunhão de amor, onde encontrará a plenitude da vida. Desse desígnio eterno o homem afastou-se e continua a afastar-se pelo pecado. O sacerdócio resume toda a pedagogia salvífica de Deus: suscita na humanidade o fermento dessa vocação sublime de amor; apesar do pecado, renuncia aos critérios do mundo e deixa-se guiar pela Palavra do Senhor, oferecendo-lhe a sua vida e aprendendo a vivê-la como expressão de louvor. Para isso escolheu e formou um Povo a que o Profeta Isaías chama “linhagem que o Senhor abençoou” (Is. 61,9). Expressão de Deus em favor da humanidade, o Povo de Deus é, na sua identidade mais profunda, um povo sacerdotal, capaz de reconhecer o amor salvífico de Deus e de se assumir como um Povo que louva o Senhor.
O sacerdócio é um mistério de amor, do infinito amor de Deus pelo Seu Povo, que volta a poder desejar a plenitude do amor, em Deus, e volta a ser capaz de viver a vida neste mundo, como antecipação dessa plenitude final. O Santo Cura d’Ars, de quem celebramos este ano os 150 anos da sua morte, escreveu um dia: “Oh, o padre tem alguma coisa de grande. Não se compreenderá bem o sacerdócio senão no Céu. Se o compreendêssemos na Terra, morreríamos, não de espanto, mas de amor” .

Mas não foi apenas um santo sacerdote que reconheceu que o sacerdócio é um mistério de amor. Santa Teresa de Lisieux, uma humilde carmelita, sente-se devorada pelo desejo de contribuir para a salvação do mundo, quereria ser apostola desde o princípio do mundo até à escatologia e quereria dar toda a sua vida derramando o sangue como os mártires. Mas Deus fez-lhe perceber, lendo São Paulo, que, no amor, ela poderia ser tudo isso e escreve: “compreendi que a Igreja tem coração, um coração ardente de amor; compreendi que só o amor fazia actuar os membros da Igreja e que, se o amor viesse a extinguir-se, nem os apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho, nem os mártires a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo e que abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno. E então (…) exclamei: a minha vocação é o amor” .
Nem podemos imaginar a intensidade com que Maria amou o mundo, encarnando a intensidade do amor salvífico de Deus. Essa intensidade comoveu o próprio coração de Deus, a ponto de o mensageiro divino a saudar como a “cheia de graça”, aquela que vive a plenitude do amor. Na sua vocação, ao aceitar o chamamento de Deus, onde ela identifica o desígnio salvífico, ao partilhar com o seu Filho o sacrifício redentor, Maria viveu, na radicalidade do seu coração o amor sacerdotal. Como mais tarde a Igreja, ela percebeu e aceitou que a sua vocação e a sua missão era o amor.

A dimensão sacerdotal do Povo de Deus e as suas instituições inserem-se no dinamismo da redenção, levando um Povo “que o Senhor abençoou” a recuperar a sua vocação primordial de comunhão com Deus. No desígnio de salvação, esta não consiste, apenas, na plenitude escatológica. A comunhão com Deus é para ser vivida já neste mundo, pois ela define o mistério da vida. O primeiro fruto da dimensão sacerdotal é levar o Povo a louvar o Senhor, em tudo o que se é e o que se faz: rezando, toda a Liturgia é um acto de louvor, praticando o amor e a justiça, proclamando as maravilhas de Deus. Israel e a Igreja são chamados a ser um povo que louva o Senhor. A primeira manifestação desse louvor é reconhecer a acção de Deus em favor do Seu Povo, na consciência de que, sem Deus, os homens não conseguem ultrapassar a fronteira entre o pecado e a graça. A confissão de fé dos crentes de Israel é recordar, fazer memória, das maravilhas que Deus realizou em favor do seu Povo. Encontramos na primeira leitura que escutámos (Is. 61, 9-11) essa atitude de louvor: “Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de Justiça”. O Profeta Isaías sente essa misericórdia de Deus como expressão da sua ternura amorosa: “Como o noivo que cinge a fronte com o diadema e a noiva que se adorna com as suas jóias”.

Reconhecer e fazer memória da acção salvífica de Deus é a essência da dimensão sacerdotal. A própria Eucaristia, principal expressão do Povo Sacerdotal, onde se tona clara a especificidade do ministério dos sacerdotes e da sua convergência com a oferta do Povo Sacerdotal, é a memória da acção decisiva de Deus, em Jesus Cristo, para a salvação da humanidade. Maria fá-lo espontaneamente, assumindo atitude sacerdotal, ao reconhecer as maravilhas que Deus realiza nela e que relaciona com as maravilhas que fez em favor do seu Povo: “A minha alma glorifica o Senhor… o Todo Poderoso fez em mim maravilhas, Santo é o seu Nome… acolheu a Israel seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais” (cf. Lc. 1,46-55).

A dimensão sacerdotal exprime-se, também, na oferta a Deus de sacrifícios de louvor. A melhor expressão do louvor que o homem pode ter é oferecer a sua vida a Deus e viver a vida de modo digno para ser oferecida. São Paulo pede isso aos cristãos de Roma, como ouvimos na segunda leitura: “Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais a vós mesmos, como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, como culto espiritual” (Rom. 12,1). A consciência teológica de Israel vai percebendo que na oferta pura que o justo faz da sua vida a Deus, ele merece a redenção dos seus irmãos. Encontramos a plenitude desta oferta sacerdotal da própria vida, no sacrifício de Cristo de que a Igreja faz memória sempre que celebra a Eucaristia.
Esta oferta total da própria vida, Maria fá-la desde o momento em que disse a Deus: “faça-se em mim segundo a tua Palavra” e radicaliza-a, para todo o sempre, aos pés da Cruz de seu Filho, oferecendo-O e oferecendo-se com Ele. Ela é verdadeiramente co-redentora. Este sacrifício perene de Jesus Cristo, não se repete, mas actualiza-se, como se fosse oferecido hoje, no poder sacramental da Igreja na Eucaristia e na presença amorosa de Maria na Igreja. A memória viva que guarda no seu coração daquele momento decisivo do Calvário é também uma forma de lhe dar actualidade na vida da Igreja. Com a Igreja, Maria oferece e oferece-se em cada Eucaristia.

Proclamar a Palavra que nos revela o amor de Deus e levar o povo a escutá-la e a segui-la, pondo-a em prática, é outra expressão da dimensão sacerdotal. Esta dimensão viveram-na apaixonadamente os profetas, deve devorar o coração dos sacerdotes que também são profetas. Maria é, também neste aspecto da dimensão sacerdotal uma estrela que nos guia. “Eu sou a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc. 1,18). E nas Bodas de Caná convida os criados: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo. 2,5). Esse é o desafio que a Igreja, Povo Sacerdotal, faz ao mundo a que é enviada: escutai o que Deus vos diz; fazei tudo o que Ele vos disser.

A dimensão sacerdotal é, no meio dos homens, a manifestação da solicitude de Deus pelas necessidades do Povo e de cada um. Ele é o pastor do seu Povo, conhece as suas ovelhas, sabe do que precisam, cuida das doentes e das débeis, vai à procura delas, carrega aos ombros a que está ferida. Esta atenção à vida concreta de cada homem é desafio a toda a Igreja, Povo Sacerdotal, é-o particularmente para nós, sacerdotes, chamados a sermos presenças vivas de Cristo Bom Pastor. Nas Bodas de Caná, Maria mostra essa atitude pastoral de atenção ao pequeno-grande problema que afligia os esposos. Mostra-o quando diz a Jesus: “não têm vinho” (Jo. 2,5). Que solicitude, que atenção ao pormenor, que capacidade de avaliar um problema pessoal.

O sacerdócio é a expressão do amor de Deus e hoje sabemos o seu nome: é o Espírito Santo, o que realiza toda a obra de Deus em favor do seu Povo. O Espírito Santo é o segredo da acção sacramental. Todos os membros da Igreja são sacerdotes porque são ungidos pelo Espírito Santo. Os sacerdotes são ungidos e consagrados pelo Espírito na sua ordenação. E todos sabemos que a fecundidade sacerdotal é obra do Espírito Santo, a certeza da Igreja de “que a Deus nada é impossível”. Contemplemos a missão de Maria como um sacerdócio, em dois momentos da salvação a acontecer. Na Anunciação, o Anjo diz a Maria: “O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra” (Lc. 1,35). E, na Eucaristia, antes da consagração do Pão e do Vinho, o sacerdote reza assim: “santificai estes dons, derramando sobre eles o vosso Espírito, para que se convertam, para nós, no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Euc. II). De facto a Deus nada é impossível. A acção do Espírito em Maria prolonga-se na acção da Igreja, no seu poder sacerdotal. O amor de Deus continua a transformar a história.

Homilia do Santo Padre Bento XVI

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