Sobre a visita que o Papa fará a Espanha:
"Na Espanha, talvez exista esse clichê de que antes era muito católica e agora já não é. Talvez se tenha dado um processo que se produz também em todos os países da área ocidental: viver como se Deus não existisse.
Isso também é trazido pelo progresso material, por uma vida fácil, pelo fato de que aos domingos as pessoas vão passear, saem da cidade para respirar e não frequentam a igreja.
Determinadas dificuldades da vida social podem conduzir a não educar os filhos de maneira cristã: os filhos têm de praticar esportes e aprender idiomas, mas às vezes não frequentam a catequese. Enfim, são dificuldades da nossa vida moderna.
Também existe a diminuição da taxa de natalidade. A sociedade busca cada vez mais viver em apartamentos muito pequenos. As circunstâncias influenciam este processo de distanciamento espiritual."
“A Europa foi um continente cristão, que levou sua civilização, sua cultura e sua religião ao mundo inteiro, mas, sobretudo a partir do processo do Iluminismo e do processo de impor a razão humana como única guia da humanidade, esse sentido de Deus se escondeu e a cultura ocidental e europeia consideraram Deus, a partir de então, como algo indiferente e como um inimigo da autonomia, como se o ser humano não pudesse se realizar humanamente se Deus estivesse presente.
O Papa insiste muito no contrário: em Deus, como amigo, o homem encontra sua plenitude e, quando Deus falta, o homem se empobrece. Na Idade Média, os pecadores percorriam este caminho como penitência para encontrar novamente a graça de Deus, mas eram pessoas que tinham Deus.
Uma coisa é querer buscar Deus e outra coisa é ignorá-lo e negar sua existência. Quando a pessoa tem Deus, ainda que tenha quedas, pode encontrar o perdão de Deus, mas o problema surge quando a pessoa não o tem. O que o Papa quer é que a Europa e o mundo recuperem Deus como amigo, como quem dá sentido e plenitude ao homem. O que ele busca é que não vejam Deus como um problema para que possam se realizar.
Parece-me que é particularmente oportuno que o Papa vá à Espanha duas vezes no mesmo ano, porque a Espanha está vivendo esse processo de secularização acelerado, talvez com um pouquinho de atraso com relação aos países da Europa central. Acho que é um momento no qual o Papa quer voltar a dizer aos espanhóis uma frase que ele repetiu várias vezes durante seu pontificado: "O Senhor não tira nada e dá tudo".
Trechos de uma entrevista com Dom Celso Morga, subsecretário da Congregação para o Clero em 03/11/2010.
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