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sexta-feira, 11 de março de 2011

Paquistão: “Um trágico exemplo da intolerância em que vivemos”, afirmam Bispos do país.

Por Felipe Viana


“Condenamos o homicídio do Ministro católico para as Minorias religiosas, Shahbaz Bhatti.
Estamos muito tristes e deploramos este gesto contrário à vida. Trata-se de um perfeito e trágico exemplo do insustentável clima de intolerância em que vivemos no Paquistão. Pedimos ao governo, às instituições e a todo o país que reconheçam e enfrentem com firmeza esta questão e ponham fim a este estado de coisas em que a violência triunfa”.
É o que declara à Agência Fides Dom Dom Lawrence Saldanha, Arcebispo de Lahore e Presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, comentando imediatamente o homicídio do Ministro Bhatti, ocorrido  em Islamabad, por obra de um comando de terroristas.

Os Bispos estão redigindo uma declaração oficial e agendaram uma reunião de emergência para avaliar a situação e decidir a estratégia para o futuro. Por um lado, quer-se proteger os fiéis, os líderes cristãos e todos os que se comprometidos na defesa dos direitos humanos e na revisão da lei sobre a blasfêmia (possíveis novos objetivos dos radicais).

Por outro, há o desejo de “despertar” a opinião pública nacional e internacional para pedir ajuda na luta ao terrorismo que está abalando o país. Dom Joseph Coutts, Bispo de Faisalabad e vice-Presidente da Conferência Episcopal, concorda e diz à Fides: “O homicídio do Ministro Bhatti é uma grande tragédia não só para os cristãos do Paquistão, mas para todo o país, pois era um Ministro Federal. No mês passado, foi assassinado o governador de Punjab, um muçulmano; hoje, Bhatti. Estamos alarmados: é sinal do fanatismo que atinge de modo indiscriminado todos aqueles que se empenham na defesa da verdade, da justiça e da paz”.


Bhatti era original da aldeia de Khushpur, na Diocese de Faisalabad. Dom Coutts o recorda assim: “Era uma pessoa autêntica, transparente, de grande coragem. Eu o estimava. Sabia que estava em perigo, mas teve coragem. A aldeia de Khushpur está em luto e na tristeza mais profunda. Rezaremos intensamente por ele”.

Os cristãos em meio a discriminações e violências

Em uma população de 185 milhões de habitantes, 96% dos quais muçulmanos, os cristãos no Paquistão representam cerca de 2%, e dentre estes, os católicos são pouco mais de 1 milhão. Os cristãos, com hindus e siques (que são 2% da população), vivem em uma condição cotidiana de discriminação e marginalização social.

Já antes da divisão de Índia e Paquistão (1947) – da qual nasceu a nação – eram parte das faixas dos chamados “dalits”, os sem-casta, segundo a rígida classificação social existente na Índia. Sua condição de subalternos não mudou na República do Paquistão. As minorias religiosas são hoje discriminadas no acesso à instrução, no mundo do trabalho, nos escritórios públicos.

A Constituição do Paquistão, redigida pelo fundador da pátria, o muçulmano Ali Jinnah, proclama o princípio de igualdade de todos os cidadãos diante da lei, “sem distinção de raça ou crença”, mas a partir de 1980, com o governo do ditador Zia-ul-Haq, o país sofreu uma progressiva islamização da sociedade, da legislação, da política, do sistema de instrução. Neste quadro, a condição das minorias piorou, sobretudo por causa de algumas medidas como a “lei sobre a blasfêmia” (art. 295b e 295c do Código Penal) e das “Ordinanze Hudood”, regras de direito penal baseadas na lei islâmica.

Hoje, segundo o Relatório 2009-2010 da Comissão Episcopal “Justiça e Paz” do Paquistão, “a tendência das violências contra minorias religiosas está em constante aumento”; a lei sobre a blasfêmia “é uma espada de Dámocles sobre as minorias”; a liberdade religiosa “reduziu-se a um mito”, e “diante da apatia do governo, urgem ações para proteger os direitos humanos”.

Entre 1987 (desde que entrou em vigor) e 2009, 1.032 pessoas foram injustamente punidas pela lei sobre a blasfêmia. A liberdade religiosa foi gradualmente subtraída: no período 2005-2009, foram contados 622 casos– apenas a ponta do iceberg – de conversões forçadas do cristianismo ao islã.
 
A Igreja católica conta 7 Bispos (para seis Dioceses e um Vicariato apostólico), 279 sacerdotes (dos quais 127 sacerdotes religiosos), 76 religiosos não sacerdotes, 799 irmãs, 53 missionários leigos e 702 catequistas. A Igreja é muito engajada nas escolas e nas obras sociais, no diálogo inter-religioso e na defesa da liberdade religiosa e dos direitos das minorias.

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