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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Como Jesus, aprendamos a fazer dom total de nós mesmos: Resumo da catequese em Português

Por Felipe Viana 



Queridos irmãos e irmãs,

O Filho Unigénito de Deus encarnou e fez-Se homem, para nos tornar participantes da sua natureza divina. Entre os usos e costumes do período natalício, conta-se a troca de presentes em sinal de amizade e estima. Pois bem! Na Noite de Natal, vimos Jesus assumir a nossa humanidade, para nos dar a sua divindade: ao fazer-Se carne, quis dar-Se a Si mesmo aos homens. Jesus é o presente maior. Quem não consegue dar algo de si mesmo, dá sempre demasiado pouco! Por vezes, procura-se compensar ou substituir com coisas materiais o compromisso de nos darmos a nós próprios. O mistério da encarnação mostra que Deus não procede assim; não Se limita a dar-nos coisas, mas quis dar-Se a Si mesmo no seu Filho Unigénito. Ele fez-Se verdadeiramente um de nós, para nos comunicar a sua própria vida; e fê-lo, não com a investida de um soberano que subjuga o mundo com o seu poder, mas com a humildade dum Menino. Em Jesus, manifesta-se plenamente o homem ao homem.

Uma cordial saudação a todos os peregrinos de língua portuguesa, a quem agradeço a presença e desejo a riqueza imensa e inesgotável que é Cristo, o Deus feito homem. Revesti-vos de Cristo! E, com Ele, o vosso Ano Novo não poderá deixar de ser feliz. Sobre vós e vossas famílias, desça a minha Bênção. 


RealAudioMP3 “Seguindo o exemplo de Jesus, aprendamos a fazer dom total de nós mesmos. Quem não consegue dar-se a si mesmo, dá sempre demasiado pouco.” Esta a brevíssima mensagem do tweet com que o Papa resumiu hoje o conteúdo da sua catequese na audiência geral desta quarta-feira, na Aula Paulo VI, no Vaticano. 
Recordando o costume natalício de oferecer prendas, Bento XVI refletiu que é um gesto que normalmente é um sinal de amor e estima. Trata-se de algo que bem se sintoniza com o mistério do Natal: Jesus é o grande dom, o presente de Deus para nós. Ouçamos as palavras com que o próprio Bento XVI sintetizou o conteúdo da sua catequese: 

Fonte: Radio Vaticano 

Catequese de Bento XVI: Mistério da Encarnação - 09/01/2013

Por Felipe Viana

Queridos irmãos e irmãs,

     Nesta época de Natal que se concentrar mais uma vez no grande mistério de Deus que desceu do Céu para se juntar a ela na nossa carne. Em Jesus, Deus se encarnou, se fez homem como nós, e portanto, aberto a porta do seu céu, à plena comunhão com Ele.

     Estes dias, em nossas igrejas tocou várias vezes a palavra "encarnação" de Deus, para expressar a realidade que celebramos no Natal: o Filho de Deus se fez homem, como dizemos no Credo . Mas o que significa esta palavra central para a fé cristã? Encarnação vem do latim " incarnatio ". Santo Inácio de Antioquia - o fim do primeiro século - e especialmente Irineu Santos têm usado este termo refletindo sobre o Prólogo do Evangelho de São João, em especial, a expressão "O Verbo se fez carne" ( Jo 1:14) . Aqui, a palavra "carne" no uso hebraico, indica a pessoa como um todo, o homem todo, mas apenas sob o aspecto de sua transitoriedade e temporalidade, sua pobreza e contingência. Isso é para dizer que a salvação de Deus que se fez carne em Jesus de Nazaré o homem toca em sua realidade concreta e em qualquer situação que você está. Deus tomou a condição humana para se curar de tudo o que nos separa dele, de modo que podemos chamar, em seu Filho unigênito, com o nome de "Abba, Pai" e ser verdadeiramente filhos de Deus diz Santo Irineu, "Esta É por isso que o Verbo se fez homem, eo Filho de Deus, Filho do homem: para que o homem, entrando em comunhão com a Palavra e recebendo assim a filiação divina, pode se tornar um filho de Deus "( Adversus Haereses , 3,19,1: PG 7,939, cf. Catecismo da Igreja Católica , 460).
     "O Verbo se fez carne" é uma daquelas verdades que se tornaram tão acostumados a ele que dificilmente afeta mais do que o tamanho do evento que ele expressa. E, de fato, nesta época de Natal, em que a expressão retorna muitas vezes na liturgia, às vezes ele está mais preocupado com as aparências, as "cores" do partido, que o coração das grandes novidades que Christian comemorar, algo absolutamente impensável, que só Deus poderia trabalhar e só podemos entrar com fé. Os Logos , que é com Deus, o Logos , que é Deus, o Criador do mundo (cf. Jo 1:1), para o qual foram criadas todas as coisas (cf. 1.3), que acompanhou e acompanha os homens em história, com a sua luz (cf. 1,4-5, 1,9), torna-se um dos outros, viveu entre nós, tornou-se um de nós (cf. 1:14). O Concílio Vaticano II diz: "O Filho de Deus ... trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu por escolha humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, ele tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado "(Constituição Gaudium et Spes , 22). É importante, então, recuperar o espanto diante deste mistério, vamos quebrar a magnitude deste evento: Deus, o verdadeiro Deus, o Criador de tudo, veio como um homem em nossas ruas, entrando o tempo do homem para comunicar sua própria vida (cf. 1 Jo 1:1-4). E isso não aconteceu com o esplendor de um soberano, que ele aplica-se com o seu poder sobre o mundo, mas com a humildade de uma criança.

     Gostaria de salientar um segundo elemento. No Natal costumamos trocar alguns presentes com as pessoas mais próximas. Às vezes pode ser um ato feito por convenção, mas geralmente expressa afeição, é um sinal de amor e estima. Na oração as ofertas da solenidade de Missa de Natal na Igreja reza: "Acolhei, ó Senhor, a nossa oferta nesta noite de luz, e por este misterioso intercâmbio de dons transformar-nos em Cristo, vosso Filho, que elevou o 'homem ao seu lado na glória. " O pensamento do presente, então, está no centro da liturgia e traz à nossa consciência do presente original do Natal, em que a carne santa noite Deus tornando-se, ele queria se tornar um presente para os homens, se entregou por nós, Deus tem fez uma doação de seu único Filho para nós, assumiu a nossa humanidade para nos dar a sua divindade. Este é o grande presente. Mesmo em nosso dar não é importante que um presente é caro ou não, aqueles que não podem doar um pouco de si mesmo, sempre dá muito pouco, na verdade, às vezes você tenta apenas para substituir o coração eo compromisso de doar auto com as coisas materiais, dinheiro. O mistério da encarnação significa que Deus não fez assim: ele deu alguma coisa, mas ele deu a si mesmo em seu Filho unigênito. Aqui encontramos o modelo da nossa doação, porque nossos relacionamentos, especialmente os mais importantes, são movidos pelo dom gratuito de amor.

     Eu gostaria de oferecer uma terceira reflexão: o fato da Encarnação, de Deus tornar-se um homem como nós, nos mostra o realismo sem precedentes do amor divino. A ação de Deus, de fato, não se limita a palavras, de fato, podemos dizer que ele não se contenta em falar, mas é imersa em nossa história e assume a fadiga e peso da vida humana. O Filho de Deus se fez verdadeiro homem, nascido da Virgem Maria, em uma época e em um lugar específico em Belém durante o reinado de Augusto, em Governador Quirino (cf. Lc 2,1-2), é Cresci em uma família, ele tinha amigos, ele formou um grupo de discípulos, ele instruiu os apóstolos para continuar a sua missão, ele completou o curso de sua vida terrena, na cruz. Este modo de agir de Deus é um poderoso estímulo para questionar o realismo da nossa fé, que não deve ser limitado à esfera dos sentimentos e emoções, mas deve entrar na realidade de nossa existência, que é tocar nossas vidas todos os dias e direcioná-lo de uma forma prática. Deus não parou em palavras, mas ele nos mostrou como viver, partilhando a nossa experiência, exceto no pecado. O Catecismo de São Pio X, que alguns de nós têm estudado criança, com sua simplicidade, a pergunta: "Para viver de acordo com Deus, o que vamos fazer", dá a resposta: "Para viver de acordo com Deus deve acreditar que a verdade revelado por Ele e guarda os seus mandamentos, com a ajuda da sua graça, que é através dos sacramentos e da oração. " A fé tem um aspecto fundamental que afeta não só a mente eo coração, mas ao longo de nossas vidas.
Um último elemento que proponho para sua consideração. São João diz que a Palavra, o Logos estava com Deus desde o início, e que todas as coisas foram feitas por meio da Palavra, e nada do que existe foi feito sem Ele (cf. Jo 1:1-3). O evangelista claramente alude à história da criação do que é nos primeiros capítulos do Gênesis, e lê-los à luz de Cristo. Este é um critério fundamental na leitura cristã da Bíblia: o Antigo eo Novo Testamento deve ser lido sempre juntos e de Nova revela o sentido mais profundo também da Velha. Essa mesma Palavra que sempre existiu com Deus, que é o próprio Deus e por quem e em vista de que todas as coisas foram criadas (cf. Col 1:16-17), tornou-se homem: o Deus eterno e infinito mergulhou na finitude humana, sua criatura, para trazer o homem e toda a criação a Ele. O Catecismo da Igreja Católica afirma: "A primeira criação encontra seu sentido e seu cume na nova criação em Cristo, em que o brilho excede a do primeiro "(n. 349). Os Padres da Igreja têm se aproximou de Jesus a Adão, para chamá-lo de "segundo Adão" ou o novo Adão, a imagem perfeita de Deus pela encarnação, o Filho de Deus é uma nova criação, o que dá a resposta completa para a questão "Quem é o homem?". Só Jesus revela-se plenamente o plano de Deus sobre o ser humano: ele é o homem de acordo com a definitiva de Deus O Concílio Vaticano II fortemente reitera: "Na realidade, é só no mistério do Verbo encarnado se o mistério do homem ... Cristo, o novo Adão, revela o homem a si mesmo e revela a sua altíssima vocação "(Constituição Dogmática Gaudium et Spes , 22;. cf Catecismo da Igreja Católica , 359). Neste criança, o Filho de Deus contemplado no Natal, podemos reconhecer a verdadeira face, não só de Deus, mas a verdadeira face do ser humano, e somente com a abertura de ação de sua graça e buscando a cada dia a segui-lo, percebemos o plano de Deus para nós, cada um de nós.

     Queridos amigos, neste período, meditar sobre a riqueza grande e maravilhosa do mistério da Encarnação, para permitir que o Senhor nos ilumine e nos transformar mais e mais à imagem de seu Filho feito homem por nós. 

Fonte: Boletim Diário da Santa Sé, Canção Nova 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A Sagrada Comunhão na Boca ou na Mão?

Por Felipe Viana 


     Ensina-nos a nossa Santa Mãe Igreja que o Santíssimo Sacramento é a Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Por isso, falando a respeito do ato de receber o Corpo de Nosso Senhor diretamente na boca, o Papa Paulo VI, na instrução Memoriale Domini, de 29 de maio 1969 (posterior ao Concílio Vaticano II, portanto), recomenda: "Levando em conta a situação atual da Igreja no mundo inteiro, essa maneira de distribuir a santa comunhão deve ser conservada."
      
     A prática tradicional que a Santa Igreja adota há vários séculos é que os fiéis recebam o Corpo de Nosso Senhor diretamente na boca. Entretanto, existe hoje a concessão para que se receba o Corpo de Nosso Senhor na mão. Assim, em matéria moral, é lícito tanto receber o Corpo de Nosso Senhor na boca como na mão. Porém, a recomendação oficial do Santa Igreja é que se conserve a prática de receber Nosso Senhor na boca. E as normas litúrgicas são bem claras em afirmar que ?os fiéis jamais serão obrigados a adotar a prática da comunhão na mão." (Notificação da Sagrada Congregação para os Sacramentos e Culto Divino, de Abril de 1985). Não tem, pois, um sacerdote o direito de se negar a ministrar o Corpo de Nosso Senhor na boca.
 
     O Papa Paulo VI deixa claro que, se na antiguidade, em algum local foi comum a prática dos fiéis receberem o Corpo de Nosso Senhor na mão, houve nas normas litúrgicas um amadurecimento neste sentido para se passasse a receber o Corpo de Nosso Senhor diretamente na boca. Assim diz Paulo VI: "Com o passar do tempo, quando a verdade e a eficácia do mistério eucarístico, assim como a presença de Cristo nele, foram perscrutadas com mais profundidade, o sentido da reverência devida a este Santíssimo Sacramento e da humildade com a qual ele deve ser recebido exigiram que fosse introduzido o costume que seja o ministro mesmo que deponha sobre a língua do comungante uma parcela do pão consagrado."
 
     Mas quais são as vantagens que há em receber o Corpo de Nosso Senhor diretamente na boca? O Papa Paulo VI fala de duas: a maior reverência à Sua Presença Real e a maior segurança para que não se percam os fragmentos do Seu Corpo. Assim ele se expressa: "Essa maneira de distribuir a santa comunhão deve ser conservada, não somente porque ela tem atrás de si uma tradição multissecular, mas sobretudo porque ela exprime a reverência dos fiéis para com a Eucaristia. Esse modo de fazê-lo não fere em nada a dignidade da pessoa daqueles que se aproximam desse sacramento tão elevado, e é apropriado à preparação requerida para receber o Corpo do Senhor da maneira mais frutuosa possível. Essa reverência exprime bem a comunhão, não ?de um pão e de uma bebida ordinários? (São Justino), mas do Corpo e do Sangue do Senhor, em virtude da qual ?o povo de Deus participa dos bens do sacrifício pascal, reatualiza a nova aliança selada uma vez por todas por Deus com os homens no Sangue de Cristo, e na fé e na esperança prefigura e antecipa o banquete escatológico no Reino do Pai? (Sagr. Congr. dos Ritos, Instrução Eucharisticum Mysterium, n.3) Por fim, assegura-se mais eficazmente que a santa comunhão seja administrada com a reverência, o decoro e a dignidade que lhe são devidos de sorte que seja afastado todo o perigo de profanação das espécies eucarísticas, nas quais, ?de uma maneira única, Cristo total e todo inteiro, Deus e homem, se encontra presente substancialmente e de um modo permanente? (Sagr. Congr. dos Ritos, Instrução Eucharisticum Mysterium, n. 9); e para que se conserve com diligência todo o cuidado constantemente recomendado pela Igreja no que concerne aos fragmentos do pão consagrado."
 
     Em relação à esta maior reverência de que o Papa Paulo VI fala, o senso litúrgico da Santa Igreja tem o ato de evitar tocar no Sagrado como sinal de reverência. No Antigo Testamento, Deus proíbe que se toque na Arca da Aliança que Ele manda fabricar (Ex 25,10-22; 2Sm 6,6-7). A este respeito também que Santo Tomás de Aquino, doutor da Santa Igreja, na Summa Teológica (Summa, III pars, q.82, art. 3), afirma que ?por reverência a este sacramento, nada o toca, a não ser o que é consagrado; portanto, o corporal e o cálice são consagrados, e da mesma forma as mãos do sacerdote, para tocarem este sacramento." Também o saudoso Papa João Paulo II escreveu: ?Tocar as Sagradas Espécies s e distribui-las com as próprias mãos é um privilegio dos ordenados." (Dominicae Cenae, 24 de fevereiro de 1980) Por isso, o Sagrado Magistério ordinariamente só permite que os sacerdotes e diáconos toquem no Corpo de Nosso Senhor. Tanto que o Corpo de Nosso Senhor só pode ser recebido na mão como concessão especial, e "o ministro ordinário da Sagrada Comunhão é o Bispo, o Presbítero ou o Diácono" (Código de Direito Canônico, 910); os ministros extroardinários da Sagrada Comunhão só podem atuar quando houver uma necessidade real e extraordinária - como o próprio nome diz. Se na Santa Ceia, Nosso Senhor entregou o Seu Corpo nas mãos dos Santos Apóstolos, não podemos esquecer que eles eram Bispos, e como Sacerdotes que são, tocam ordinariamente o Corpo de Nosso Senhor.
    Tal ato externo de reverência exprime e testemunha a fé da Santa Igreja, em reconhecer que a hóstia consagrada não é um pãozinho, uma rosquinha ou uma bolacha Trakinas, mas é o Corpo de Nosso Senhor.
 
     Se a intimidade a qual Nosso Senhor se entrega a nós no Santo Sacrifício da Missa é verdadeira, também é verdadeira a reverência que devemos à Ele como verdadeiro Deus. A reverência não se opõe à intimidade, nem a intimidade se opõe a reverência. Neste sentido, o saudoso Papa João Paulo II escreve em sua última encíclica: ?Se a idéia de "banquete" inspira familiaridade, a Igreja nunca cedeu à tentação de banalizar esta "intimidade" com seu Esposo, recordando-se que ele é também seu Senhor e que, embora "banquete", permanece sempre um banquete sacrifical, assinalado com o sangue derramado no Gólgota." (EE 48)
     Se nos cultos protestantes se tem o costume tradicional de receber o pão na mão, é porque lá não se acredita na Presença Real de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento - e neste caso é pão mesmo, pois os protestantes romperam com a Sucessão Apostólica, ou seja, lá não há sacerdotes validamente ordenados, e portanto não poderiam celebrar a Santa Missa nem se quisessem.
     Em ambientes católicos, os teólogos ditos "progressistas" vão na mesma linha e incentivam a prática de receber o Corpo de Nosso Senhor na mão; uma conhecida religiosa brasileira (que aliás, combate explicitamente o ensinamento da Sagrado Magistério ao defender a utopia do sacerdócio feminino) contraria de forma absurda a argumentação de Santo Tomás de Aquino e dos Papas, dizendo: "A comunhão deve ser recebida na mão ou na boca? Na maioria das dioceses, esse problema já foi superado há muito tempo; entendemos que somente crianças muito pequenas necessitam receber comida na boca. E o povo de Deus não quer ser infantilizado por mais tempo." (Ione Buyst, em "A Missa, memória de Jesus no coração da vida"; p. 139) Que ousadia terrível uma religiosa comparar o Corpo de Nosso Senhor com uma comida qualquer e afirmar que o Sagrado Magistério nos infantiliza ao recomendar reverência à Ele!
     Aqui, é preciso deixar claro que não podemos condenar a atitude de quem recebe, em determinada situação, o Corpo de Nosso Senhor na mão, por motivos justos. Aqui se enquadra o exemplo de uma pessoa que em determinada situação opta em receber o Corpo de Nosso Senhor na mão de um ministro que se sabe que lhe desagrada ministrar o Corpo de Nosso Senhor diretamente na boca, para evitar conflitos com tal ministro. Porém, tais razões podem ser muito pessoais e subjetivas, por isso aqui não nos cabe julgamento do ato.
 
     Além do mais, sempre será mais santa a atitude daquele que recebe o Corpo de Nosso Senhor na mão estando em estado de graça, do que aquele que recebe o Corpo de Nosso Senhor na boca estando em estado de pecado mortal. Porém, não podemos relativizar a questão a tal ponto de ignorarmos as vantagens que há em receber o Corpo de Nosso Senhor na boca.
Fonte: Reino da virgem Mãe de Deus 

Mensagem do Papa para o 21º Dia Mundial do Doente - 08/01/2013

Por Felipe Viana

                                «Vai e faz tu também o mesmo» (Lc 10, 37)



Amados irmãos e irmãs!

1. No dia 11 de Fevereiro de 2013, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, celebrar-se-á de forma solene, no Santuário mariano de Altötting, o XXI Dia Mundial do Doente. Este dia constitui, para os doentes, os operadores sanitários, os fiéis cristãos e todas as pessoas de boa vontade, «um momento forte de oração, de partilha, de oferta do sofrimento pelo bem da Igreja e de apelo dirigido a todos para reconhecerem na face do irmão enfermo a Santa Face de Cristo que, sofrendo, morrendo e ressuscitando, operou a salvação da humanidade» (João Paulo II, Carta de instituição do Dia Mundial do Doente, 13 de Maio de 1992, 3). Nesta circunstância, sinto-me particularmente unido a cada um de vós, amados doentes, que, nos locais de assistência e tratamento ou mesmo em casa, viveis um tempo difícil de provação por causa da doença e do sofrimento. Que cheguem a todos estas palavras tranquilizadoras dos Padres do Concílio Ecuménico Vaticano II: «Sabei que não estais (…) abandonados, nem sois inúteis: vós sois chamados por Cristo, a sua imagem viva e transparente» (Mensagem aos pobres, aos doentes e a todos os que sofrem).
2. Para vos acompanhar na peregrinação espiritual que nos leva de Lourdes, lugar e símbolo de esperança e de graça, ao Santuário de Altötting, desejo propor à vossa reflexão a figura emblemática do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). A parábola evangélica narrada por São Lucas faz parte duma série de imagens e narrações tomadas da vida diária, pelas quais Jesus quer fazer compreender o amor profundo de Deus por cada ser humano, especialmente quando se encontra na doença e no sofrimento. Ao mesmo tempo, porém, com as palavras finais da parábola do Bom Samaritano – «Vai e faz tu também o mesmo» (Lc 10, 37) –, o Senhor indica qual é a atitude que cada um dos seus discípulos deve ter para com os outros, particularmente se necessitados de cuidados. Trata-se, por conseguinte, de auferir do amor infinito de Deus, através de um intenso relacionamento com Ele na oração, a força para viver diariamente uma solicitude concreta, como o Bom Samaritano, por quem está ferido no corpo e no espírito, por quem pede ajuda, ainda que desconhecido e sem recursos. Isto vale não só para os agentes pastorais e sanitários, mas para todos, incluindo o próprio enfermo, que pode viver a sua condição numa perspectiva de fé: «Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através da união com Cristo, que sofreu com infinito amor» (Enc. Spe salvi, 37).

3. Diversos Padres da Igreja viram, na figura do Bom Samaritano, o próprio Jesus e, no homem que caiu nas mãos dos salteadores, Adão, a humanidade extraviada e ferida pelo seu pecado (cf. Orígenes, Homilia sobre o Evangelho de Lucas XXXIV, 1-9; Ambrósio, Comentário ao Evangelho de São Lucas, 71-84; Agostinho, Sermão 171). Jesus é o Filho de Deus, Aquele que torna presente o amor do Pai: amor fiel, eterno, sem barreiras nem fronteiras; mas é também Aquele que «Se despoja» da sua «veste divina», que baixa da sua «condição» divina para assumir forma humana (cf. Flp 2, 6-8) e aproximar-Se do sofrimento do homem até ao ponto de descer à mansão dos mortos, como dizemos no Credo, levando esperança e luz. Ele não Se vale da sua igualdade com Deus, do seu ser Deus (cf. Flp 2, 6), mas inclina-Se, cheio de misericórdia, sobre o abismo do sofrimento humano, para nele derramar o óleo da consolação e o vinho da esperança.

4. O Ano da fé, que estamos a viver, constitui uma ocasião propícia para se intensificar o serviço da caridade nas nossas comunidades eclesiais, de modo que cada um seja bom samaritano para o outro, para quem vive ao nosso lado. A propósito, desejo recordar algumas figuras, dentre as inúmeras na história da Igreja, que ajudaram as pessoas doentes a valorizar o sofrimento no plano humano e espiritual, para que sirvam de exemplo e estímulo. Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, «perita da scientia amoris» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 42), soube viver «em profunda união com a Paixão de Jesus» a doença que a levou «à morte através de grandes sofrimentos» (Audiência Geral, 6 de Abril de 2011). O Venerável Luís Novarese, de quem muitos conservam ainda hoje viva a memória, no exercício do seu ministério sentiu de modo particular a importância da oração pelos e com os doentes e atribulados, que acompanhava frequentemente aos santuários marianos, especialmente à gruta de Lourdes. Movido pela caridade para com o próximo, Raul Follereau dedicou a sua vida ao cuidado das pessoas leprosas mesmo nos cantos mais remotos da terra, promovendo entre outras coisas o Dia Mundial contra a Lepra. A Beata Teresa de Calcutá começava sempre o seu dia encontrando Jesus na Eucaristia e depois saía pelas estradas com o rosário na mão para encontrar e servir o Senhor presente nos enfermos, especialmente naqueles que não são «queridos, nem amados, nem assistidos». Santa Ana Schäffer, de Mindelstetten, soube, também ela, unir de modo exemplar os seus sofrimentos aos de Cristo: «o seu quarto de enferma transformou-se numa cela conventual, e o seu sofrimento em serviço missionário. (...) Fortalecida pela comunhão diária, tornou-se uma intercessora incansável através da oração e um espelho do amor de Deus para as numerosas pessoas que procuravam conselho» (Homilia de canonização, 21 de Outubro de 2012). No Evangelho, sobressai a figura da Bem-aventurada Virgem Maria, que segue o sofrimento do Filho até ao sacrifício supremo no Gólgota. Ela não perde jamais a esperança na vitória de Deus sobre o mal, o sofrimento e a morte, e sabe acolher, com o mesmo abraço de fé e de amor, o Filho de Deus nascido na gruta de Belém e morto na cruz. A sua confiança firme no poder de Deus é iluminada pela Ressurreição de Cristo, que dá esperança a quem se encontra no sofrimento e renova a certeza da proximidade e consolação do Senhor.

5. Por fim, quero dirigir um pensamento de viva gratidão e de encorajamento às instituições sanitárias católicas e à própria sociedade civil, às dioceses, às comunidades cristãs, às famílias religiosas comprometidas na pastoral sanitária, às associações dos operadores sanitários e do voluntariado. Possa crescer em todos a consciência de que, «ao aceitar amorosa e generosamente toda a vida humana, sobretudo se frágil e doente, a Igreja vive hoje um momento fundamental da sua missão» (João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici, 38).
     
     Confio este XXI Dia Mundial do Doente à intercessão da Santíssima Virgem Maria das Graças venerada em Altötting, para que acompanhe sempre a humanidade que sofre, à procura de alívio e de esperança firme, e ajude todos quantos estão envolvidos no apostolado da misericórdia a tornar-se bons samaritanos para os seus irmãos e irmãs provados pela enfermidade e o sofrimento, enquanto de bom grado concedo a Bênção Apostólica.

Vaticano, 2 de Janeiro de 2013.
                                                                                                      BENEDICTUS PP XVI

Fonte: Boletim Diário da Santa Sé 

Discurso do Papa ao corpo diplomático - 07/01/2013

Por Felipe Viana 



DISCURSO
Audiência com o Corpo Diplomático junto à Santa Sé
Sala Régia do Palácio Apostólico Vaticano
Segunda-feira, 7 de janeiro de 2012


Excelências,
Senhoras e Senhores,

     Tenho o gosto de vos receber, ilustres Membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, para vos dirigir a minha saudação pessoal e venturosa, como é habitual no início de cada novo ano; saudação essa que, de bom grado, estendo às diletas nações que representais e às quais asseguro a recordação constante na minha oração. Estou particularmente grato ao Decano, Embaixador Alejandro Valladares Lanza, e ao Vice-Decano, Embaixador Jean-Claude Michel, pelas palavras deferentes que me dirigiram em nome de todos vós. Uma saudação especial desejo fazer àqueles que participam pela primeira vez neste encontro; a vossa presença constitui um sinal expressivo e tangível das relações frutuosas que a Igreja Católica mantém, em todo o mundo, com as autoridades civis. Trata-se de um diálogo que tem a peito o bem integral, espiritual e material, de cada homem e visa promover a sua dignidade transcendente por toda a parte. Como recordei na Alocução do último Consistório Ordinário Público para a criação de novos Cardeais, "desde o seu início, a Igreja está orientada kat'holon, isto é, abraça todo o universo" e, consequentemente, cada povo, cada cultura e tradição. Tal "orientação" não constitui uma ingerência na vida das diversas sociedades, mas serve para iluminar a reta consciência dos seus cidadãos e convidá-los a trabalhar pelo bem de cada pessoa e o progresso do gênero humano. Foi nesta perspectiva – para fomentar uma profícua cooperação entre a Igreja e o Estado ao serviço do bem comum – que, no ano passado, a Santa Sé assinou Acordos bilaterais com o Burundi e a Guiné Equatorial, e ratificou o Acordo com o Montenegro; e, com o mesmo espírito, participa nos trabalhos de várias Organizações e Entidades internacionais. A este respeito, fiquei contente por ter sido acolhido, em Dezembro passado, o seu pedido para se tornar Observador Extra-Regional no Sistema de Integração da América Central, nomeadamente pela contribuição que a Igreja Católica oferece em vários setores dos Estados da região. As visitas de diversos Chefes de Estado e de Governo, que recebi ao longo do ano passado, bem como as inesquecíveis viagens apostólicas que realizei ao México, a Cuba e ao Líbano foram ocasiões privilegiadas para reafirmar o empenhamento cívico dos cristãos daqueles países e também para promover a dignidade da pessoa humana e os fundamentos da paz.


     Neste lugar, apraz-me ainda mencionar o valioso trabalho realizado pelos Representantes Pontifícios em diálogo constante com os vossos Governos. Em particular, desejo recordar a estima de que gozava o Núncio Apostólico na Costa do Marfim, D. Ambrose Madtha, que tragicamente morreu um mês atrás num acidente de carro, juntamente com o motorista que o acompanhava.

Senhoras e Senhores Embaixadores,

     O Evangelho de Lucas narra que, na noite de Natal, os pastores ouvem os coros angélicos que glorificam a Deus e proclamam a paz para a humanidade. O evangelista sublinha, assim, a estreita relação entre Deus e o anseio profundo que sempre tem o homem de conhecer a verdade, praticar a justiça e viver na paz [cf. João XXIII, Pacem in terris: AAS 55 (1963), 257]. Hoje, por vezes, é-se levado a pensar que a verdade, a justiça e a paz sejam utopias que se auto-excluem. Conhecer a verdade parece ser impossível e os esforços para a afirmar são apresentados, muitas vezes, como desembocando na violência. Por outro lado, de acordo com uma generalizada concepção, o compromisso pela paz reduz-se a fazer cedências que garantam a convivência entre os povos ou então entre os cidadãos da mesma nação. Diversamente, na perspectiva cristã, há uma ligação íntima entre a glorificação de Deus e a paz dos homens na terra, de tal modo que a paz não resulta meramente de um esforço humano, mas deriva do próprio amor de Deus. O que gera a violência não é a glorificação de Deus, mas o seu esquecimento. De fato, como se pode efetuar um autêntico diálogo, quando deixa de haver por referência uma verdade objetiva e transcendente? Em tal caso, como se pode evitar que a violência, aberta ou disfarçada, se torne a derradeira norma das relações humanas? Na realidade, sem uma abertura ao transcendente, o homem cai como presa fácil do relativismo e, consequentemente, torna-se-lhe difícil agir de acordo com a justiça e comprometer-se pela paz.

     Às manifestações contemporâneas do esquecimento de Deus, podem-se associar as manifestações devidas à ignorância do seu verdadeiro rosto, que é a causa de um pernicioso fanatismo de matriz religiosa, que ceifou vítimas em alguns dos países aqui representados também no ano de 2012. Como já tive ocasião de dizer, trata-se duma falsificação da própria religião, uma vez que esta visa reconciliar o homem com Deus, iluminar e purificar as consciências e tornar claro que cada homem é imagem do Criador. Ora, se a glorificação de Deus e a paz na terra estão intimamente ligadas entre si, é evidente que a paz constitui, ao mesmo tempo, dom de Deus e tarefa do homem, porque exige a sua resposta livre e consciente.

     Por esta razão, quis dar como título à Mensagem anual para o Dia Mundial da Paz: Bem-aventurados os obreiros da paz. A grave responsabilidade de trabalhar pela paz incumbe primariamente sobre as autoridades civis e políticas; são elas as primeiras chamadas a resolver os numerosos conflitos que continuam a ensanguentar a humanidade, a começar por aquela região privilegiada no plano de Deus que é o Médio Oriente. Penso, antes de mais nada, na Síria, dilacerada por contínuos massacres e palco de imensos sofrimentos para a população civil. Renovo o meu apelo para que se deponham as armas e possa, o mais rápido possível, prevalecer um diálogo construtivo para acabar com um conflito que, se perdurar, não conhecerá vencedores mas apenas derrotados, deixando em campo atrás de si apenas ruínas. Permiti-me solicitar-vos, Senhoras e Senhores Embaixadores, que continueis a sensibilizar as respectivas autoridades para que sejam fornecidas, urgentemente, as ajudas indispensáveis para fazer face à grave situação humanitária. Acompanho com viva atenção também a Terra Santa. Na sequência do reconhecimento da Palestina como Estado Observador não-Membro das Nações Unidas, renovo os meus votos de que israelitas e palestinianos, com o apoio da comunidade internacional, se empenhem por chegar a uma convivência pacífica no contexto de dois Estados soberanos, onde o respeito pela justiça e as legítimas aspirações de ambos os povos seja tutelado e garantido. Jerusalém, torna-te aquilo que o teu nome significa: cidade da paz e não da divisão, profecia do Reino de Deus e não mensagem de instabilidade e conflito!

     Depois o meu pensamento detém-se na amada população do Iraque, para lhe desejar que percorra o caminho da reconciliação a fim de chegar à ansiada estabilidade.

     Quanto ao Líbano, cujas diversas realidades constituintes pude encontrar no passado mês de Setembro, oxalá a pluralidade das suas tradições religiosas seja uma verdadeira riqueza tanto para o país como para toda a Região, e os cristãos ofereçam um testemunho eficaz para a construção dum futuro de paz com todos os homens de boa vontade.

     Também no Norte de África é prioritária a cooperação de todos os componentes da sociedade, devendo ser garantida a cada um deles a plena cidadania, a liberdade de professar publicamente a sua religião e a possibilidade de contribuir para o bem comum. Desejo assegurar a todos os egípcios a minha proximidade e a minha oração neste período em que se formam novas instituições.

     Estendendo depois o olhar para a África subsaariana, encorajo os esforços para construir a paz, sobretudo nos lugares onde permanecem abertas as feridas das guerras e onde pesam graves consequências humanitárias. Penso de modo particular na região do Corno de África, bem como no leste da República Democrática do Congo, onde recrudesceram as violências, forçando muitas pessoas a abandonar as suas casas, as próprias famílias e ambientes de vida. Ao mesmo tempo, não posso ignorar as outras ameaças que se desenham no horizonte. Com intervalos regulares, a Nigéria vê-se palco de atentados terroristas que ceifam vítimas, sobretudo entre os fiéis cristãos reunidos em oração, como se o ódio quisesse transformar templos de oração e de paz em centros de pavor e dissensão. Senti uma grande tristeza quando soube que, no próprio dia em que celebramos o Natal, foram barbaramente assassinadas dezenas de cristãos. Também o Mali se vê dilacerado pela violência e sofre uma profunda crise institucional e social, que deve merecer um eficaz empenho da comunidade internacional. E, passando à República Centro-Africana, espero que as conversações anunciadas para os próximos dias tragam a estabilidade e poupem à população reviver as tribulações da guerra civil.

     A construção da paz passa, sem cessar, pela tutela do homem e dos seus direitos fundamentais. Embora com modalidades e graus diversos, esta tarefa interpela todos os países e deve ser constantemente inspirada pela dignidade transcendente da pessoa humana e pelos princípios inscritos na sua natureza. Entre estes, ocupa o primeiro plano o respeito pela vida humana, em todas as suas fases. Por isso, me alegrei com a Resolução da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa que, em Janeiro do ano passado, pediu a proibição da eutanásia, entendida como a morte voluntária, por acção ou omissão, de um ser humano em condições de dependência. Ao mesmo tempo, vi com tristeza que em vários países, mesmo de tradição cristã, se procurou introduzir ou ampliar legislações que despenalizam o aborto. O aborto directo, ou seja, querido como fim ou como meio, é gravemente contrário à lei moral. Ao dizer isto, a Igreja Católica não pretende faltar de compreensão e benevolência nomeadamente para com a mãe; trata-se, antes, de velar para que a lei não chegue a alterar, injustamente, o equilíbrio entre o igual direito à vida que possuem tanto a mãe como o filho nascituro. Neste domínio, é igualmente fonte de preocupação a sentença recente da Corte Interamericana dos Direitos do Homem relativa à fecundação in vitro, que redefine arbitrariamente o momento da concepção e debilita a defesa da vida pré-natal.

     Infelizmente circulam, sobretudo no Ocidente, numerosos equívocos sobre o significado dos direitos humanos e seus correlativos deveres. Não é raro o caso de se confundir os direitos com manifestações exacerbadas de autonomia da pessoa, que se torna auto-referencial, deixando de estar aberta ao encontro com Deus e com os outros para se fechar sobre si mesma buscando satisfazer as suas próprias carências; ao passo que a defesa dos direitos, para ser autêntica, deve ao invés considerar o homem na sua integridade pessoal e comunitária.

     Continuando a nossa reflexão, vale a pena sublinhar a educação como sendo outro caminho privilegiado para a construção da paz. Assim no-lo ensina, para além do mais, a crise económica e financeira actual. Esta desenvolveu-se porque, com muita frequência, foi absolutizado o lucro em detrimento do trabalho, e se aventuraram desenfreadamente pelos trilhos da economia financeira em vez da real. Por isso, é necessário recuperar o sentido do trabalho e de um lucro que lhe seja proporcionado. Com esta finalidade, há que educar para resistir à tentação dos interesses particulares e a curto prazo, orientando-se antes na direcção do bem comum. Além disso, é urgente formar os líderes que hão-de guiar, no futuro, as instituições públicas nacionais e internacionais [cf. Mensagem para o XLVI Dia Mundial da Paz (8 de Dezembro de 2012), 6]. A própria União Europeia precisa de Representantes clarividentes e qualificados para realizar as opções difíceis que são necessárias a fim de sanar a sua economia e colocar bases sólidas para o seu progresso. Sozinhos, alguns países talvez caminhassem mais rápido; mas, juntos, todos chegarão certamente mais longe! Se é uma preocupação o índice diferencial entre as taxas financeiras, deveriam suscitar indignação as crescentes diferenças entre poucos, cada vez mais ricos, e muitos, irremediavelmente pobres. Em suma, trata-se de não se resignar com a «contracção do bem-estar social», enquanto se combate a contracção financeira.

     Investir em educação nos países em vias de desenvolvimento da África, Ásia e América Latina significa ajudá-los a vencer a pobreza e as doenças, bem como a realizar sistemas legais equitativos e respeitadores da dignidade humana. É claro que, para implementar a justiça, não bastam bons modelos económicos, embora sejam necessários. A justiça só se realiza, se houver pessoas justas! Por isso, construir a paz significa educar os indivíduos para combaterem a corrupção, a criminalidade, a produção e o tráfico da droga, bem como para evitar divisões e tensões, que põem em risco o tecido da sociedade, dificultando o seu desenvolvimento e a convivência pacífica.

     Hoje gostava ainda de lhes dizer que a paz social é posta em perigo também por alguns atentados à liberdade religiosa: trata-se, umas vezes, de marginalização da religião na vida social, outras, de intolerância ou mesmo de violência contra pessoas, símbolos identificadores e instituições religiosas. Acontece também que os crentes – e os cristãos em particular – se vejam impedidos de contribuir para o bem comum com as suas instituições educativas e de assistência social. Além disso, para salvaguardar efectivamente o exercício da liberdade religiosa, é essencial respeitar o direito à objecção de consciência. Esta «fronteira» da liberdade toca princípios de grande importância, de carácter ético e religioso, radicados na própria dignidade da pessoa humana. Tais princípios constituem, de certo modo, as «paredes mestras» de qualquer sociedade que queira ser verdadeiramente livre e democrática. Por isso, proibir a objecção de consciência individual e institucional, em nome da liberdade e do pluralismo, abriria, ao invés e paradoxalmente, as portas precisamente à intolerância e ao nivelamento forçado.
Além disso, num mundo de fronteiras cada vez mais abertas, construir a paz através do diálogo não é uma opção, mas uma necessidade! Nesta perspectiva, a Declaração conjunta entre o Presidente da Conferência Episcopal Polaca e o Patriarca de Moscovo, assinada no passado mês de Agosto, é um sinal forte dado pelos crentes para favorecer as relações entre o povo russo e o povo polaco. De igual modo, desejo mencionar o acordo de paz recentemente alcançado nas Filipinas e, de modo particular, sublinhar o papel do diálogo entre as religiões para uma convivência pacífica na região de Mindanau.

Excelências,
Senhoras e Senhores,

     No final da Encíclica Pacem in terris, cujo cinquentenário tem lugar este ano, o meu predecessor Beato João XXIII recordava que a paz é «uma palavra vazia de sentido», se não for vivificada e integrada pela caridade [AAS 55 (1963), 303]. Por isso, a caridade está no âmago da acção diplomática da Santa Sé e, antes ainda, da solicitude do Sucessor de Pedro e de toda a Igreja Católica. A caridade não substitui a justiça negada, mas também a justiça não supre a caridade recusada. A Igreja pratica diariamente a caridade através das suas obras de assistência social, como hospitais e dispensários, e das suas obras educativas, como orfanatos, escolas, colégios, universidades, e também com a assistência prestada às populações em dificuldade, nomeadamente durante e depois dos conflitos. Em nome da caridade, a Igreja quer estar junto também de quantos sofrem por causa das calamidades naturais. Penso nas vítimas das inundações no Sudeste Asiático e do furacão que atingiu a costa leste dos Estados Unidos da América. Penso também naqueles que sofreram com o forte terramoto que devastou algumas regiões do norte da Itália. Como sabeis, quis visitar pessoalmente aqueles lugares, onde pude constatar o desejo ardente e o empenho de reconstruir o que ficou destruído. Espero que, neste momento da sua história, tal espírito de tenacidade e empenho compartilhado anime toda a dilecta nação italiana.

     Quero, ao concluir este nosso encontro, recordar que, no final do Concílio Vaticano II – inaugurado precisamente há cinquenta anos – o Venerável Papa Paulo VI dirigiu algumas Mensagens que continuam de grande actualidade, sendo uma delas destinada a todos os governantes. Exorta-os nestes termos: «É a vós que pertence ser na terra os promotores da ordem e da paz entre os homens. Mas não esqueçais: é Deus (...) o grande artífice da ordem e da paz na terra» [Mensagem aos Governantes (8 de Dezembro de 1965), 3]. Hoje faço minhas estas considerações, ao formular a vós, Senhoras e Senhores Embaixadores e ilustres Membros do Corpo Diplomático, às vossas famílias e vossos colaboradores, os meus votos mais calorosos para este novo Ano. Obrigado!

Fonte: Canção Nova 

Dom George Gäenswein, Arcebispo e Prefeito da Casa Pontifícia

Por Felipe Viana



 
 



 



Fonte : Santa Igreja 

Santa Missa Papal na Solenidade da Epifania com Sagrações Episcopais

Por Felipe Viana 








































Fonte: Santa Igreja 
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