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sábado, 12 de janeiro de 2013

Cardeal Geraldo Majella e os 60 anos da CNBB

Por Felipe Viana 


Dom_Geraldo_Majella_Agnelo_60CNBBRever a história desta instituição sexagenária é encontrar motivos de reconhecimento de inumeráveis benefícios que a CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL trouxe à missão dos Bispos do Brasil. Faz ecoar a promessa de Jesus Cristo nosso Salvador antes de sua Ascensão ao Céu: “Foi-me dado toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois fazei meus discípulos entre todas as nações” (Mt 28,18-19).
Além dos programas de cada quadriênio, discutidos e aprovados em Assembléias Gerais anuais que ajudam às Dioceses em suas programações particulares, destaca-se o ambiente de espiritualidade, estudo e aprofundamento de temas. A convivência de dez dias de reunião proporciona de modo característico fraternidade entre os bispos, estímulo e troca de experiências pessoais.
Foi memorável o estudo e aprovação unânime do Projeto Nacional de Evangelização da Igreja no Brasil cujo tema é “Queremos ver Jesus Caminho, Verdade e Vida”.
Jesus é a Luz que ilumina todo homem que vem a este mundo. Ilumina nossa inteligência para conhecermos a verdade e o amor do Espírito Santo que dá o sentido de nossa existência. Ele nos convida a vencer todo o mal e viver como verdadeiros filhos de Deus.
Nós vivemos um momento muito crítico no Brasil. A crise é acima de tudo da perda dos valores cristãos e morais, que tem conseqüências deletérias na vida política. Os que mais sofrem são os pobres e os marginalizados.
Sentimos insensibilidade para a promoção do bem comum, bem como para a verdade, a justiça e a fraternidade. Nós bispos do Brasil lutamos, estamos ao lado dos que mais sofrem, com os quais partilhamos as angústias, mas também as esperanças de um mundo novo, segundo o coração de Deus. Sabemos de tantos esforços que o nosso povo faz para participar da sua própria história. Agradecemos a Deus as pessoas e instituições que procuram nos ajudar. Experimentamos a comunhão de todos os que nos querem bem.
Temos que agradecer a Deus tantos missionários que nos enviou, provenientes do exterior, seja do clero diocesano, das diversas ordens e congregações religiosas incluindo os institutos femininos. Nós os temos como beneméritos de nossas Igrejas particulares.
Unimos nossos esforços contra o egoísmo humano e todas as formas de marginalização. Com a luz que vem de Cristo Jesus por sua palavra e o seu gesto de amor sem limites, selado na cruz, sentimos toda a força de redenção e promoção da pessoa humana. Deus precisa do coração e dos braços de todos nós para testemunharmos que viemos de Deus para fazer o bem.
Continuamos atentos ao pedido da Mãe de Deus – Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil – “fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
A Igreja que está no Brasil se sente ligada estreitamente à Igreja que está na Alemanha. Há mais de cinqüenta anos temos a presença da Ação Episcopal ADVENIAT com presença marcante a subsidiar, especialmente através de financiamentos, projetos e obras dentro dos planos diocesanos de pastoral. Sabemos dos esforços e sacrifícios de seus fieis para possibilitar tais ajudas. Agradecemos aos Bispos da Alemanha e a toda Organização feita de pessoas que amam o nosso povo necessitado e dedicam especial atenção a cada pedido formulado.
Todos os que são pobres e sofrem em suas limitações de saúde, de educação e discriminações “andam nas trevas de sua solidão” e reanimam sua esperança com todo “Rasgo de Luz” que recebem em seus sofrimentos a procurar sua promoção humana. O sofrimento experimentado pelo povo alemão, na última grande guerra, parece ter acendido mais forte o seu ideal para construir um mundo novo solidário.
Não podemos esquecer as nossas Campanhas da Fraternidade de cada ano que retratam as constantes preocupações para os grandes desafios da missão evangelizadora. Basta relatar o tema de cada ano para a grande solidariedade nacional.
É um tempo de vivência de alegrias por obras realizadas com muito amor e de tristezas pelos sofrimentos especialmente dos mais pobres e necessitados de nossas comunidades.
Preocupa-nos a falta de paz no mundo e também medida pelas injustiças e pela violência com vinganças e assassinatos, além do enriquecimento ilícito de tantos poderosos e políticos.
Podemos enumerar acontecimentos como o assassinato de missionários, como o caso da Irmã Dorothy Stang em Anapu (PA).
A Presidência da CNBB procura manter contatos com a Santa Sé, com a Nunciatura Apostólica, com o CELAM e,com outras Conferências Episcopais, através de trocas de visitas. Anualmente se realiza a visita da Presidência à Santa Sé, sendo recebida pelo Santo Padre. Em 2006 foi formalizado o convite ao Papa para visitar o Brasil em 2007, Esta aconteceu por ocasião da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino Americano em Aparecida, de 13 a 31 de maio de2007.
A CNBB, principalmente através da Presidência, acompanhou os fatos da vida pública. Cultivou relações com o Governo, nas instâncias do Executivo, Legislativo e Judiciário, com encontros periódicos com o Sr. Presidente da República, com os Parlamentares, fazendo-se presente nos debates de maior interesse para a Igreja e, no Judiciário, mediante o diálogo com Ministros do Supremo Tribunal Federal. Contatos constantes também aconteceram com Organizações da sociedade, como a OAB e movimentos sociais, sempre orientada a CNBB pelo desejo de colaborar ao bem comum, segundo a competência que lhe é própria, zelando, no entanto, pela sua autonomia e pelo bem da própria Igreja.
Algumas questões, no campo político-social, foram acompanhadas com especial atenção nesses anos, pois envolvem princípios éticos fundamentais da doutrina da Igreja. Projetos de lei que visam aprovar a legalização do aborto de fetos anencéfalos, ou com outras anomalias; o projeto de lei que visa legalizar o aborto de maneira irrestrita, o uso de embriões humanos na pesquisa científica, a comercialização de armas e munições, a corrupção nas várias instâncias do poder público, a superação da miséria e da fome, a violência e as diversas formas de ameaça ou desprezo à vida e à família, a união civil, como se casamento fosse, de pessoas do mesmo sexo, questões relativas à definição e legalização das terras indígenas e outros problemas sociais. Estamos conscientes que, nessas questões, a palavra da Igreja não é sempre bem acolhida por todos e vai até contra a corrente de certo pensamento e de certa cultura, que se pretende impor à sociedade; nessas questões, no entanto, a Igreja não pode vacilar em anunciar, com discernimento e coragem, a evangelização da cultura e das estruturas da convivência social.
Nossa Conferência Episcopal também precisa levar em conta alguns desafios permanentes. A CNBB goza de enorme reconhecimento público e suas manifestações, sobre todas as questões importantes da sociedade e da Igreja, são sempre esperadas e até exigidas. A CNBB é um organismo assaz grande e o novo Estatuto tornou sua organização ainda mais encorpada e complexa, o que torna a sua organização, acompanhamento e sustentação, sem dúvida, mais exigente que em outros tempos.
A CNBB pode prestar um grande serviço à Igreja e à sociedade, mas precisará ter o cuidado de não se tornar excessivamente pesada na sua organização funcional e pastoral e na sua administração. A experiência das Comissões Episcopais Pastorais, conforme prescreve o novo Estatuto, certamente compartilha com muitos bispos as atribuições da Conferência nos vários setores da vida e da ação pastoral da Igreja no Brasil. Isso é bom e favorece o dinamismo pastoral da CNBB. Mas é preciso evitar a departamentalização estanque das Comissões, para não prejudicar a unidade e a organização da pastoral de conjunto. Além disso, o excesso de organização e iniciativas poderia exigir sempre mais espaços físicos, recursos materiais e pessoas disponíveis, de que a Conferência não dispõe; além disso, não se deve perder de vista a função subsidiária da CNBB, para que ela não venha a pesar indevidamente sobre as Igrejas particulares nem tenda a uma centralização excessiva das iniciativas pastorais.
A CNBB possui 17 Conselhos Episcopais Regionais, que são uma riqueza e favorecem o exercício efetivo da colegialidade episcopal,  e a ajuda recíproca entre as dioceses de uma determinada região do Brasil. São 17 expressões e organizações locais da única Conferência Episcopal do Brasil. Para não descaracterizar isso e não perder de vista a comunhão na Conferência, é necessário aprofundar o intercâmbio entre os Conselhos Episcopais Regionais e a própria Conferência Nacional, quer do ponto de vista da aplicação das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora e dos Projetos Nacionais, quer do ponto de vista administrativo e das decisões pastorais. As decisões da Assembléia Geral e do Conselho Permanente empenham toda a Conferência e precisam ser assumidas, de acordo com as próprias competências, pelo CONSEP, o Secretariado Geral e também pelos Regionais.
A CNBB, enquanto Organismo que está a serviço do ministério episcopal em favor de toda a Igreja, também acompanha os organismos e organizações dos demais membros do Povo de Deus, como o Laicato, cujo protagonismo se torna sempre mais importante para a dimensão missionária da Igreja, a Vida Consagrada, os Institutos Seculares e as Novas Comunidades, dos Diáconos e dos Presbíteros. Além deles, uma série extensa de pastorais e organismos vinculados à CNBB, são uma riqueza da Igreja e prestam serviço de inestimável valor à vida e à missão da Igreja e à própria CNBB, mas precisam ser acompanhados e estimulados, conforme competência própria da CNBB.
A Deus Todo Poderoso e Pleno de Bondade toda a nossa gratidão por todo dom e graça que nos concedeu nestes sessenta anos de vida da CNBB.
São Paulo, 06 de janeiro de 2013, Festa da Epifania do Senhor.
Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo
Arcebispo Emérito de Salvador (BA)
Fonte: CNBB
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