Bento XVI
está a ponderar a hipótese de publicar num dos próximos dias, obviamente antes
do início da Sé vacante, um Motu proprio referente a alguns pontos particulares
da Constituição Apostólica sobre o Conclave, que merecerão ser precisados.
Declarou-o hoje o Padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa do
Vaticano, acrescentando não saber se o Papa considerará necessário e oportuno
fazer um esclarecimento sobre a questão do tempo do início do Conclave. “Se e
quando o documento será publicado, ver-se-á. A mim constava, por exemplo, que
se estavam a estudar alguns pormenores visando uma plena harmonização com outro
documento que diz respeito ao Conclave, a saber, o “Ordo Rituum Conclavis”. Em
todo o caso, a questão depende do Papa e se for o caso, o eventual documento
será oportunamente divulgado”.
Entretanto,
teve lugar, na manhã desta quarta-feira, dia 20, na Sala de Imprensa da Santa
Sé, um briefing sobre a história dos últimos conclaves, em que interveio o Vice
- Prefeito da Biblioteca Apostólica do Vaticano, Dr. Ambrogio Piazzoni, autor
de um livro sobre a história da eleição dos papas. Tratou-se de um dos
encontros programados pela Sala de Imprensa da Santa Sé, com o objetivo de
oferecer aos jornalistas dos diversos países um pano de fundo histórico para
uma melhor compreensão do período da Sé Vacante e do Conclave.
Doutor
Piazzoni falou da história dos Conclaves, para fazer luz sobre o que acontece
na atualidade. A bem da verdade, as normas que regem os Conclaves realizados
atualmente são fruto de experiências e de um amadurecimento que ocorreu ao
longo dos séculos.
O Vice -
prefeito da Biblioteca Apostólica do Vaticano começou por observar que os
primeiros Conclaves sofriam muitas influências externas, especialmente das
autoridades civis. Só em 1059, com o Papa Nicolau II, foi emitido o primeiro
documento pontifício sobre o Conclave, onde se indicava com precisão que
“somente os cardeais têm o direito e o dever de eleger um Pontífice”. Regra
válida até os dias de hoje. Posteriormente, em 1079, foi fixada a maioria de
2/3 dos votantes.
O “Conclave”
propriamente dito (palavra que vem do latim cum clave - fechado à chave), foi
instituído apenas em 1271 pelo Papa Gregório X e a obrigação do voto secreto,
para dar maior liberdade aos votantes, só foi fixada a partir de 1621. A
obrigação do segredo dos Cardeais durante e após o Conclave veio apenas com o
papado de Pio X, e que incluía também a obrigatoriedade da conservação da
documentação em arquivos.
Em 1922, um
Motu Próprio de Pio XI determinou a espera de 15 dias para iniciar o Conclave,
a fim de aguardar a chegada dos cardeais de todo o mundo. A Constituição
Apostólica Vacantis Apostolicae Sedis, de 8 de dezembro de 1945, do Papa Pio
XII, determinou a maioria de 2/3 mais 1 dos votos dos Cardeais.
O Motu
Proprio “Summi Pontificis electio”, de João XXIII, teve por objetivo
simplificar o processo eleitoral. As listas das votações deveriam ser
conservadas num arquivo e consultadas somente com a autorização de um Papa. As
anotações dos cardeais também deveriam ser conservadas e não queimadas como no
tempo de Pio XII e por fim, deveriam ser queimados somente os boletins de voto.
Somente em
1978, o Papa João Paulo II fixou que o Conclave deveria ser realizado na Capela
Sistina. Paulo VI dizia que ‘normalmente’ os Conclaves deveriam ser ali
realizados, enquanto que ao longo da história, se dizia que o Conclave deveria
ser realizado no local onde o pontífice viesse a morrer. Houve quatro Conclaves
realizados no Palácio do Quirinal (atual residência do Chefe de Estado
italiano), antiga residência papal. Também foi João Paulo II a estabelecer a
Casa de Santa Marta, no interior da Cidade do Vaticano, como local de
residência dos Cardeais eleitores, durante o Conclave. João Paulo II também
aboliu as formas de eleição ‘por aclamação’ ou ‘por compromisso’, mantendo
apenas a forma ‘por escrutínio’.
No final,
interpelado por jornalistas, Dr. Piazzoni explicou quantos Papas haviam
renunciado na história. Alguns Pontífices renunciaram obrigados e outros por
livre e espontânea vontade. Papa Ponciano, em 235, foi condenado a trabalhar
numa mina na Sardenha e, tendo-se prolongada a pena, renunciou para que pudesse
entrar em funções um sucessor.
Papa
Silvério, em 537, foi obrigado a abdicar e constrangido a exilar-se na Ásia
Menor. Martinho V foi preso e mandado para a Crimeia. Sobre o Papa João XVIII,
em 1009, não há uma certeza absoluta, mas é muito provável que tenha
renunciado. Bento IX, em 1044, renunciou, mas posteriormente voltou ao papado.
Posteriormente, houve o caso de Celestino V, que reconheceu não estar
preparado, e por fim Gregório XII em 1415.
Somente um
pontífice – sublinhou doutor Piazzoni . pode alterar as regras que regem um
Conclave. O que vai ter lugar agora em março será o 75º Conclave da história.
Fonte: Radio Vaticano